Dead Man Walking

por Tania Menai em

Isso todo mundo já sabe: em Manhattan você pode andar com três abacaxis na cabeça, se vestir de árvore de Natal ou de Ney Matogrosso que ninguém ousa a te olhar nas calçadas. Nem morto você é notado. Literalmente. Semana passada, um cadáver passou desapercebido na Nona Avenida. Isso mesmo, passou. A história justifica bem o nome deste blog: só em Nova York. Trata-se de uma dupla de amigos, ambos de 65 anos, que moravam juntos desde sempre na rua 52 com a Décima Avenida – os dois sempre drogados, acabados, perdidos na vida. Um deles morreu na segunda-feira. E não teve tempo de transformar em dinheiro um cheque de 355 dólares recebido da Previdência Social.

Mas não seja por isso. No dia seguinte, seu amigo juntou-se a outro para levar o cheque a um banco na Nona Avenida retirar o dinheiro. Mas foram informados de que o dono do cheque deveria ir ao banco pessoalmente. A dupla não viu problema nenhum na exigência. Vestiram o morto com uma camiseta preta desbotada e calça jeans, colocaram o corpo sentado numa cadeira de rodinhas, estilo escritório, e sairam empurrando a cadeira até o banco. Afinal, o que não se faz por 355 dólares? Porém, ao passar em frente a lanchonete Empanada Mama, que fica ao lado do banco, a dupla esbarrou com a lei.

Lá estava um detetive em hora de almoço saboreando sua empanada argentina, quando viu a cena – foi até a porta e perguntou o que estava rolando. A dupla começou a explicar ali e terminou a justificativa na cadeia com a seguinte declaração: “não vemos nada demais; nosso amigo não se importaria de ter sido levado ao banco.” Certamente não.

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