De buenas

Ana Manfrinatto, jornalista do blog Nos Ares, conta como é sua vida na cidade dos porteños

por Flora Paul em

Não entenda como um trocadilho, mas a jornalista Ana Manfrinatto, que escreve no blog da Tpm Nos Ares, diretamente de Buenos Aires, parece estar sempre numa boa. Além de desconstruir sem esforços a ideia que alguns têm de que portenhos são chatinhos e egocêntricos, Ana ainda prova que a capital argentina é divertida e tem sempre uma boa opção do que fazer com seus posts cheios de programas e lugares para ir. “Aqui a gente vai a pé para um lugar, se não gosta vai pra outro, a turma vai crescendo, daí alguém liga pra falar de uma festa”, contou ao site, por e-mail, além de responder sobre portunhol, a tal rivalidade, cotidiano e como é ser uma brasileira na Argentina.

O que os leitores do site da Tpm podem esperar do seu blog?
Qualquer coisa que eu responda aqui pode parecer pretensão. Enfim, meu blog tem um mix de agenda cultural – bastante ínfima e pautada a meu bel prazer, claro! – e de causos que acabam contando um pouquinho sobre a minha vida e, sobretudo, sobre a vida em Buenos Aires.

O que você costuma fazer quando está on-line?
Nesta ordem: abro meu Gmail e marco com uma estrelinha as mensagens que requerem mais do que 2 minutos para serem respondidas; passeio pelos portais de notícias para ver o que está acontecendo no mundo e, óbvio, dou uma olhada no Orkut e no Facebook. Antes eu gostava de brincar de Blip e de Twitter, mas tenho preferido viver a vida lá fora e estou passando cada vez menos tempo na internet.

Como você resolveu mudar para Buenos Aires?
Vim porque eu queria fechar um ciclo. Já havia morado outros dois anos aqui, em 2006 e em 2007, e queria porque queria voltar. Daí rolou um trabalho bacana e bingo!

O que as pessoas aqui no Brasil acharam quando você anunciou a mudança?
Meus pais sofrem porque eu sou filha única. Meus amigos sentem saudades. Mas todos dizem que "se isso vai te fazer feliz, nós também ficamos felizes". A vida é dinâmica, né? E a vida se repete na estação, tal qual diz a música, todos os dias.

Como está sendo sua adaptação?
Acho que eu estou me desadaptando. Explico: não é que eu mudei pra China. Eu mudei pra Buenos Aires, que é logo ali. O que eu quero dizer é que num primeiro momento nós somos muito parecidos e que não existe um grande choque cultural. Mas, à medida em que você vai conhecendo melhor o funcionamento desta sociedade e destas pessoas, as diferenças  vão ficando cada vez mais marcantes.

Como é seu dia a dia por aí?
Pego ônibus lotado, trabalho dez horas por dia, vou ao supermercado, levo roupa pra lavar, nunca tenho tempo de ir à farmácia de manipulação pra fazer o meu floral, saio para caminhar sem rumo, vou a bares, cafés, shows, cinema. Normal, ué!

Qual é seu programa favorito em Buenos Aires?
Eu faço os mesmos que eu fazia em São Paulo. A diferença é que lá em São Paulo os programas são combinados com séculos de antecedência, sempre tem que pagar pra entrar, tem o trânsito, tem o valet parking, é sempre cada um que vai com o seu carro etc. Aqui a gente vai a pé para um lugar, se não gosta vai pra outro, a turma vai crescendo, daí alguém liga pra falar de uma festa.

Você sente alguma diferença no tratamento quando descobrem que você é brasileira?
Opa! Não há um santo dia em alguém (taxista, vendedor e por aí vai) me deixe de contar sobre o quão lindas as praias brasileiras são, de me perguntar se eu gosto mais daqui ou daí e se eu não sinto saudades do Brasil. E também tenho que lidar com o imaginário universal de que mulher brasileira é objeto de desejo. Menos mal que eu tenho jogo de cintura.

Mas a rivalidade entre Brasil e Argentina existe por aí?
Existe no futebol e ponto. Diferente de nós brasileiros que achamos que argentino é folgado e que fazemos piadas do tipo "argentino quando se suicida pula do alto do próprio ego"; eles gostam muito dos brasileiros e sempre elogiam o poder do nosso "algo mais" e da nossa simpatia.

Quando pensa voltar pra cá?
Pergunta difícil. Próxima!

Você domina a língua? Ou cai no portunhol de vez em quando?
Domino, sim. E o pessoal daqui costuma rir quando eu começo a desfiar todo o meu rosário de gírias portenhas. Mas quando eu converso com meus amigos brasileiros daqui nós falamos um dialeto à parte que nem sequer é portunhol.

 

Arquivado em: Tpm / Buenos aires / Viagem