Cozinhando com arte
Entre Panelas e Tigelas, a Aventura Continua te ajuda a cozinhar pelo caminho mais fácil
Um livro de receitas com cara de livro de arte. Entre Panelas e Tigelas, a Aventura Continua, de Helô Bacellar, te ajuda a cozinhar pelo caminho mais fácil e ainda decora sua cozinha
“Quando estou triste, eu faço um bolo e, quando estou feliz, eu faço vários.” Poucas frases definem melhor Heloisa Bacellar do que essa, pinçada de seu primeiro livro de receitas, Cozinhando para Amigos. Advogada, Helô descobriu muito cedo que se realizava mesmo na cozinha. Sem deixar de lado o escritório, foi estudar em Paris, no Cordon Bleu (tradicional escola francesa de culinária), e, anos depois, de volta a São Paulo, em 1999, abriu com Ana Paula de Moraes Rizkallah a escola Atelier Gourmand.
Mas, para entender de verdade quem é essa Helô que escreve e cozinha com paixão, é preciso entrar em sua casa no Pacaembu, em São Paulo, e ver de perto de onde vem sua inspiração. Ao lado da cozinha dos sonhos está uma biblioteca gigantesca, que divide com o marido, historiador, Carlos Bacellar. Das estantes recheadas de livros – “leio muito, não só sobre culinária, mas literatura mesmo” – vêm as ideias que são testadas à exaustão na cozinha em busca da receita perfeita – e descomplicada.
Fazer com que o leitor consiga realizar bem as receitas, das mais simples às mais requintadas, é o principal mérito de Cozinhando para Amigos e, agora, de sua continuação, Entre Panelas e Tigelas, a Aventura Continua, recém-lançado pela editora DBA. A novidade é que, em vez de escolher menus completos para receber os amigos, Helô dividiu o livro em 16 temas diferentes.
A inspiração para os capítulos vêm de ingredientes, lembranças e viagens. “Adorei colocar a mandioca do lado de Paris. Comecei a escrever depois de ver umas maçãs lindas. Depois, num aniversário de criança, lembrei de como eram boas as festas de quando a gente era pequeno. Quando vi, tinha começado uns 16 assuntos que não tinham nada a ver um com o outro. Mas cheguei à conclusão de que a minha cabeça é uma coisa tão variada, que achei que aquilo era um retrato meu”, conta.
Além das receitas que dão supercerto, o livro traz textos deliciosos na abertura de cada capítulo e fotos de Romulo Fialdini. E Helô está por trás de cada detalhe, do preparo da comida à procura dos objetos certos para compor as fotos. Um pequeno exemplo: “Sou apaixonada pelo Caetano Veloso, e ele teve a sensibilidade de, no Trem das Cores, falar da seda azul do papel que envolve a maçã, que é lindo. Tive o maior trabalho para achá-lo. Agora só tem papel branco, amarelo. Eu queria o azul, estava fazendo isso pro Caetano [risos]”.
Tpm. Quanto tempo levou para organizar as novas receitas? Algumas já estavam testadas para o Cozinhando para Amigos e ficaram de fora?
Helô Bacellar. Algumas sim. Demorei uns dois anos e pouco para fazer esse livro. Faço muita pesquisa para achar coisas legais, aí vou experimentando, mudando, até chegar a uma receita ótima. Quando falo no livro que meu marido e minhas filhas têm muita paciência, é verdade. Quando cismo com um bolo de fubá, faço 50 bolos. Eles chegam para jantar e só tem 50 bolos. Uma vez a Ana, minha filha mais nova, estava estudando pirâmide alimentar na escola e sua lição era dizer o que tinha jantado. Eu tinha testado umas 30 receitas, nada a ver com nada, e ela comeu um pouco de tudo. No dia seguinte ela me disse que mentiu na escola. Falou que tinha jantado arroz, feijão, bife e batatinha, porque se contasse o que tinha comido ninguém ia acreditar.
Uma coisa legal no seu livro é que é fácil seguir as receitas, em alguns livros parece que o autor não quer que a receita fique perfeita, quer esconder um segredo, concorda? As pessoas acham que nunca acontece nada de errado com quem sabe cozinhar. Eu não gosto dessa postura de chef que parece inatingível, perfeito e nunca faz nada de errado. Isso não existe, tento mostrar que são pessoas de carne e osso.
Muita gente conhece você dos livros, do Atelier Gourmand, mas não tem a oportunidade de provar a sua comida. Há alguma chance de isso mudar em breve? Tem sim. Ainda não posso dar detalhes, mas mais para a metade do ano as pessoas vão ter onde provar a minha comida.