Conversas no cárcere
Vanessa Ferrari descreve a força dos encontros mensais sobre livros que tem com detentas
Todo mês, a editora Vanessa Ferrari* vai à Penitenciária Feminina de Sant’Ana, em São Paulo, falar com 16 detentas sobre livros. Aqui, ela descreve a força desses encontros
Há pouco mais de um ano entrei pela primeira vez na Penitenciária Feminina de Sant’Ana com o romance Dois irmãos, de Milton Hatoum, debaixo do braço. Eu havia me voluntariado para ser mediadora de um clube de leitura para um grupo de detentas. A ideia era muito simples: uma vez por mês nos encontraríamos para conversar sobre um livro. Meu trabalho era conduzir a discussão; o delas, chegar até a última página do título proposto.
Desde então, temos lido contos, quadrinhos, romances, autobiografias, reportagens, contos de fadas. Esse repertório faz frente à proposta pedagógica de qualquer boa escola do país. Um ano, 13 livros, três vezes mais que a média nacional de leitura. Além disso, elas puderam conhecer pessoalmente o escritor Marçal Aquino e as professoras Noemi Jaffe e Lilia M. Schwarcz, que prepararam uma aula sobre Carlos Drummond de Andrade e Jorge Amado especialmente para elas.
Passado mais de um ano, sei muito pouco sobre a vida na prisão, mas entendi a força que os clubes de leitura exercem na formação de leitores. Como mediadora, tudo que faço é dar um empurrãozinho para que elas surfem nas águas turvas da literatura. E como estão surfando bem essas meninas.
*Vanessa Ferrari é editora assistente da Companhia das Letras e assina uma coluna mensal no blogdacompanhia.com.br