Cinema agridoce
Diretora Nadine Labakin fala de Caramelo, filme que conta as angústias de cinco mulheres
A história de cinco mulheres que dividem no salão de beleza tudo o que acontece em suas vidas - traições, homossexualismo, inseguranças femininas - fez do filme libanês Caramelo, que estreia hoje no circuito alternativo de cinemas de São Paulo, um sucesso de crítica no mundo todo. "Não esperava, é um pequeno filme libanês com atrizes desconhecidas!", conta Nadine Labakin, a diretora e roteirista. Depois de dirigir vídeoclipes, a libanesa resolveu se aventurar em longa-metragens. "É o que pretendo fazer daqui pra frente" contou, por telefone, ao site da Tpm, em um bate-papo em que também falou sobre beleza, política e a experiência de dirgir atrizes amadoras.
Você filmou com mulheres que não são atrizes. Por quê? Como foi o processo de escolha e direção dessas mulheres?
Eu escolhi trabalhar com mulheres que não fossem atrizes,porque acho que mulheres comuns podem ser tão interessantes quanto atrizes. Escolhi cada uma por sua personalidade. O casting durou bastante tempo, quase um ano, e tive a ajuda de muitas pessoas já no processo de filmar. Claro que fazer a direção de pessoas que não estão acostumadas a atuar foi mais complicado, elas não têm a disciplina de um ator. Tive que encontrar um jeito próprio de falar com cada uma, uma técnica diferente para filmar cada uma.
O que te fez escolher um salão de beleza como o ponto de encontro das mulheres do filme?
Bom, existem muitos motivos. Acho que salões de beleza são lugares muito importante para mulheres, na época em que vivemos, porque existe essa procura muito forte por uma beleza jovem e eterna. Então é um lugar que carrega esperança. Você vai e espera sair mais bonita, mais confiante. Também existe uma relação de confiança entre você e sua cabeleireira, ou maquiadora, ou depiladora, às vezes você conta segredos que não contaria para mais ninguém. E também, porque é um lugar um pouco fascinante para os homens, eles não sabem o que acontece ali, ficam curiosos.
O Líbano passou por muitas guerras civis, mas você optou por não falar diretamente sobre política.
É, acho que evitei esse tópico, mas evitá-lo também foi um ato político. Primeiro, porque vivi a guerra por muito tempo. Então, queria falar sobre outras coisas, achei que seria mais interessante mostrar um outro lado do Líbano, que as pessoas e a mídia não conhecem. Não sei se tenho algo a acrescentar sobre a guerra. Ainda assim, acho que a política está em todo o filme, mesmo que ninguém fale diretamente sobre ela.
Caramelo foi o candidato libanês para a pré-seleção do Oscar e recebeu críticas positivas por todo o mundo. Você esperava esse sucesso?
Eu fiquei muito feliz porque as críticas foram realmente boas. Ele estreou em Cannes [em 2007], teve uma boa recepção em todos os festivais que exibimos, deixou os libaneses muito orgulhos. Mas é claro que eu não esperava, é um pequeno filme libanês com atrizes que não são conhecidas, não achei que fosse fazer sucesso. Para mim, é praticamente um milagre, me sinto em um conto-de-fadas.
Você começou fazendo vídeo clipes. Como foi essa experiência?
Fazer vídeo clipes foi algo muito especial e diferente. Eu fazia muitas experimentações, tentava muitas ideias. Foi uma boa maneira de aprender técnicas. Mas fazer filmes é algo muito maior, é o que pretendo fazer daqui pra frente.
Já tem novos projetos para filmar?
Sim, estou começando a escrever um roteiro, mas ainda está em fase inicial. Não sei sobre o que vou falar, que direção tomar. Existem muitas coisas interessantes das quais gostaria de falar, então não penso em fazer outros roteiros falando sobre a história de mulheres, como esse, por exemplo.
E depois de filmar um salão de beleza, qual você acha que é o segredo para se sentir bonita?
Ser feliz, sempre!