Chão de água

As brasileiras que venceram todas as mulheres no campeonato de Stand Up Paddle

por Ariane Abdallah em

Surfar ondas gigantes no Havaí já virou feijão-com-arroz para as brasileiras Maria e Andrea. Agora, o lance delas é o Stand Up Paddle, mistura de surf, remo e ousadia

Essas duas brasileiras passaram 6 horas, 28 minutos e 32 milhas (cerca de 59 quilômetros) de pé sobre as águas do canal mais profundo e cheio de correntezas do Havaí. Na manhã de um domingo de julho, meditavam em alto-mar. “Temos que ler o oceano e ver as condições do tempo, não dá para distrair”, conta a surfista pernambucana Maria de Souza, 38. No máximo, ela trocava olhares de incentivo com a parceira, a paulista Andrea Möller, 28, enquanto se revezavam, a cada 20 minutos, do barco de apoio, onde comiam e se alongavam, para a prancha. O mar estava bravo, e o vento não aliviava. Exatamente como elas desejavam. “Nosso objetivo é surfar a favor do vento”, explica Andrea. Mas elas não estavam simplesmente surfando. Sobre uma prancha de 3,5 metros e mais grossa do que a de surf, e com dois remos quase de sua altura, elas foram da ilha de Molokai a Oahu. Venceram as outras mulheres – nesse caso, quatro duplas – pela quarta vez consecutiva, no Quiksilver Edition Molokai to Oahu Paddleboard Race 2008. Essa é a competição mais casca-grossa do ainda pouco difundido Stand Up Paddle, que mistura surf e canoagem havaiana. “Você coloca os remos na água como se fossem as pernas mais fortes do mundo”, explica Maria.

A sintonia da dupla vem de outras navegações. Elas foram as primeiras mulheres a surfar ondas gigantes, em 2005, na modalidade do surf conhecida como tow-in, que conta com jet ski de apoio por causa do tamanho das ondas. Chegaram a dropar 40 metros de Jaws, a mais temida onda de Maui – ilha havaiana em que moram – e uma das cinco mais temidas do mundo. E, quando viram o lendário surfista Laird Hamilton – ex-marido de Maria e pai de sua filha, Bela, 13 anos – remando numa prancha, resolveram fazer igual.

 

 

Equilíbrio
Em 2005, elas foram as únicas mulheres a participar da primeira edição desse mesmo campeonato da Quiksilver, com mais dois times masculinos. Andrea, casada com um holandês e mãe de Keala, 4, está empolgada com o curso de paramédica que consome nove horas de seu dia. Há dois anos, Maria abriu a primeira escola especializada em Stand Up Paddle em Maui e difunde o esporte em escolas infantis e resorts. No Brasil, o Stand Up chegou há quatro anos, pelo surfista Luis Felipe Gontier, o Pipo, que viu Vitor Marçal ser o pioneiro brasileiro no Havaí. Segundo ele, hoje há cerca de 200 praticantes no país, que terá o primeiro campeonato durante o evento Earth Wave, dia 7 de setembro, em Santos (SP). Em São Paulo é possível ter aulas de Stand Up na raia da USP, com o surfista Alessandro Macero, o Amendoim.Segundo a dupla brasileira, mesmo quem nunca subiu numa prancha pode praticar. “O mais importante é o equilíbrio. Com o tempo, os músculos ficam harmoniosos”, garante Maria, com o corpo durinho comprovando o que diz.

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Qual o barato do Stand Up Paddle e para quem o esporte é indicado? Qualquer um pode praticar, sem limites, sem idade. O visual de cima de uma prancha em pé, sem pegar onda, já vale a prática. O equilíbrio, claro, é fundamental. Mas tenho notado que a prática leva à perfeição, o corpo humano se adapta rapidamente. No início parece meio estranho, por exemplo, virar a prancha, o vento atrapalha um pouco. Aqui o esporte cresceu muito neste verão. Pais, mães, senhoras, crianças, a família toda. Eu mesmo remo de duas a três hora por dia, como parte de treino para as corridas. Você está em pé no oceano, é como se caminhasse na água. Vê tudo de cima, o visual da água pra terra é demais.

Você vê mulheres praticando? Tenho visto muitas mulheres aqui em Oahu [Havaí], pois temos muitas corridas de Stand Up.

E quais os benefícios físicos? Você sempre está em isometria nas pernas e nos glúteos. Usa muito abdome também e tem muita gente perdendo peso. Usa deltóides, bíceps, tríceps, serratéis, trapézio e torso para remar e pegar as ondas. Ajuda no tônus muscular, sem esquecer que é um ótimo exercício cardiovascular, de concentração e equilíbrio.

Do que precisa para começar? De uma prancha e um remo.

Qual a melhor maneira de aprender? Com uma prancha de 12 pés [cerca de 3,5 metros], com uma boa flutuação. Num lugar calmo, com água parada para dar as primeiras remadas. Com vídeos, instrutores ou até sozinho é muito fácil. É só sair remando e descobrir como fazer a prancha mudar de direção.

Quando e como você conheceu o Stand Up Paddle? Eu tinha visto o Stand Up quando trabalhava como salva-vidas. Não foi o Laird Hamilton [ícone do surf e precursor do esporte no Havaí] que eu vi praticar pela primeira vez, mas um “beach boy” chamado Bobby Atchoi, em Waikiki [Havaí], por volta de 1994. Ele remava em cima da prancha com calça jeans dobrada na canela e camisa e com uma câmera fotográfica descartável, para tirar fotos dos turistas surfando ou remando na canoa havaiana. Ele não caía nunca e sempre estava seco.

E aí você já começou a praticar? Não. Comecei quando vi Laird em algumas ondas cascas em Maui, por volta de 2002. Despertou o interesse, pois havia certo grau de dificuldade, sabe como? Prancha de 12 pés [cerca de 3,5 metros], remos, equilíbrio, vento, onda, arrebentação, crowd...

NO BRASIL

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Onde
Segundo o surfista Luis Felipe Gontier, o Pipo – que trouxe o esporte para o Brasil –, cerca de 200 adeptos têm praticado o Stand Up Paddle em águas nacionais. Principalmente, no litoral norte paulista, no litoral gaúcho e em Florianópolis (SC).

Para aprender

Em São Paulo: aulas particulares de Stand Up Paddle com o surfista Alessandro Macero, o Amendoim: na raia da USP, Portão 2, av. da Raia Olímpica. Cada aula custa R$ 80 e pode ser agendada de segunda a quinta no horário de sua preferência. Nos fins de semana, você pode praticar em Maresias, pelos mesmo valor. Mas, para cair no mar, o aluno demora entre cinco e dez aulas. Se preferir, aprenda com ele um dos esportes que inspiraram a criação do Stand Up: a canoa havaiana. No mesmo local, segundas, quartas e sextas, das 12h30 às 13h30. O preço é R$ 160 por mês.
Em Santos: aulas com Picuruta Salazar, ex-campeão brasileiro de surf: (13) 7808-6657 ou www.picuruta.com.br. Às quartas, sextas e sábados. O preço é R$ 60 pela aula de uma hora.

Equipamento

Vitor Marçal, o primeiro brasileiro a praticar Stand Up, explica que as pranchas apropriadas para a modalidade são maiores (têm cerca de 3 metros) que as de surf (cerca de 1,50 m), mas são leves, o que facilita o transporte. O preço delas varia entre R$ 1.050 e R$ 2.275. O remo é vendido à parte, por cerca de R$ 525. O Amendoim indica a compra pelo site www.chati.com.br. No Guarujá, a dica é comprar com o Pipo, no Gzero: (11) 8582-6868.

Para saber mais sobre o assunto:
C4 Waterman – http://www.c4waterman.com/
Paddle Surf Hawaii – http://www.paddlesurfhawaii.com/

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