Censurada
A porquinha Peppa, acusada de ser feminista(?), pode até sair do ar em canal público da Austrália
Quando você acha que já viu de tudo e já leu de tudo se surpreende com essa: Peppa, a porquinha mais querida do mundo, está no centro de uma discussão por verbas na TV estatal australiana, a ABC. Com um corte previsto no orçamento, quem pode pagar o pato é a porquinha e sua família. O sucesso do desenho na Austrália é o mesmo que em todo o mundo. De acordo com a assessoria de imprensa da ABC, é o programa de maior audiência no IView com mais de dois milhões de visualizações mensais e está entre os programas infantis mais populares da ABC2. Só que a Austrália é governada pelo Partido Conservador, que tem maioria na Câmara e o cargo de Primeiro-Ministro. E Peppa teria posições mais à esquerda, mais parecidas com o Partido Trabalhista. Essas tendências foram descritas pelo colunista do Daily Telegraph, Piers Akerman. “A personagem Peppa estaria mais próxima dos valores do Partido Trabalhista do que das crianças da pré-escola que a assistem”.
A senadora do Partido Trabalhista Australiano, Louise Pratt, posicionou-se sobre os cortes na TV Estatal e “defendeu” a simpática porquinha. “Estaria Peppa salva de ser tirada do ar particularmente por conservadores preocupados sobre sua perigosa ideologia feminista?”. Em resposta ao questionamento da senadora, a diretora da ABC disse que Peppa, George, Mamãe e Papai Pig estão salvos porque a ABC tem contratos a cumprir, mas que quando expirarem ela não pode mais garantir que o desenho continuará no ar. Um outro senador se meteu na história dizendo que não tinha a menor ideia de quem era a Peppa e quando a senadora se ofereceu a presenteá-lo com alguns DVDs da série ele recusou a oferta, justificando que ele e o irmão tinham sido criadores de porcos e “já tinham visto e sentido o cheiro desses bichos o suficiente nesta vida”.
Sim, senhores, Peppa Pig está sendo usada pelos políticos australianos ao mesmo tempo em que é “acusada” de ser feminista.
Conversei sobre o assunto via Facebook com uma amiga que mora e Dublin, na Irlanda, e é mãe de quatro crianças (ou seja, uma especialista em Peppa Pig). Ela discordou veementemente da “acusação” feita à família de porquinhos. “O Papai Pig ajuda nas tarefas de casa, mas essa é a realidade da maioria dos lares europeus que não tem a ajuda de uma empregada”, afirmou Karine Keogh, brasileira e blogueira do “Ká entre Nós”. Segundo ela, a família Pig não seria comunista, socialista ou trabalhista, apenas uma família normal que divide as tarefas de casa entre pai e mãe. Eu sempre tive essa mesma impressão e por isso sempre gostei do desenho que é adorado pelo Samuca. No episódio abaixo, um exemplo da “acusação”: Mamãe Pig trabalha no computador enquanto Papai Pig faz o jantar sem-re-cla-mar. Isso acontece na minha casa e na casa de muitas famílias. Ainda bem! Uma pena que cenas como essa não sejam vistas como normal nos dias de hoje.
(*) Rita Lisauskas é jornalista, mãe do Samuel, madrasta do Lucca e do Raphael e mulher do Sérgio. Não necessariamente nessa ordem. Desde 2013 mantém o blog Ser mãe é padecer na internet, que vai estar quinzenalmente no site da Tpm http://vilamamifera.com/padecernainternet // Fanpage: www.facebook.com/padecernainternet