Carta à Laila

Minha filha, meu papel é te guiar para que você reconheça os maiores venenos da vida, e saiba se desviar deles. Ter discernimento é uma das maiores virtudes que podemos ter

Querida filha, é maio, mês das mães, então aqui vai uma carta aberta para você, que está prestes a completar 4 anos de vida. Uma criança feliz, bilíngue (quase tri!), saudável, cheia de amigos, curiosa e quenão cansa de usar o verbo “amar”. Anteontem peguei você desmaiada no meu colo, depois de ter caído de cabeça no chão, desde o topo de um escorrega altíssimo no playground do Prospect Park. Na ambulância te imobilizaram; no caminho para o hospital, fui contando para as paramédicas a sorte que eu tenho de ser a sua mãe. Mas, filha, quantas vezes eu falei para você não escalar o escorrega, hein? Mesmo eu estando ali, a queda foi inevitável; tudo o que a paramédica me falava era: “Não se sinta culpada”. Você ficou boa. Ufa.

Talvez meu maior medo não seja as suas quedas; elas vão acontecer. O medo é eu não estar ali para te carregar no colo quando você estiver desacordada. Ou quando precisar de um colo para chorar. Mas o meu papel não é só esse: é te guiar para que você reconheça os maiores venenos da vida, e saiba se desviar deles. Assim como a historinha da Chapeuzinho Vermelho, que você sabe de trás pra frente. Não adiantou a mamãe dela falar para ela ir direto para a casa da vovozinha. Ela não só topou com o lobo pela estrada afora, mas fez o que ele falou. Ter discernimento talvez seja uma das maiores virtudes que possamos ter. A Chapeuzinho certamente aprendeu isso naquele dia.

Lobos maus

Quero que você viva muito, conheça culturas que não as nossas, gente de todas as origens, e que tenha uma pitada de malícia para se desvencilhar com classe das pessoas que não te fazem bem. Selecione poucos e bons amigos. Experimente de tudo: colônia de férias, viagens pela Europa, pela Ásia, pelo Oriente Médio, pela África, pela América Latina. Descubra o Brasil. Saboreie tudo quanto é culinária (mas evite carne); leia livros, muito mais do que os que você já tem. Mergulhe no cinema, assista a filmes de qualidade.

Experimente diferentes esportes, danças, instrumentos. E conviva com pessoas que te levem para isso. Fuja daquelas que te apresentarem bebidas “pesadas”, cigarro ou drogas. Ao contrário do que você vai escutar dos lobos maus, você não precisa experimentar nada disso. São venenos que não te acrescentam, te diminuem. Olhe para essas situações de cima para baixo e não se preocupe com o que os outros pensam: saia correndo, e continue assim, sorrindo, experimentando o bom da vida. Um beijo da sua mamãe.

Tania Menai é jornalista, mora em Manhattan há 17 anos e é autora do livro Nova York do Oiapoque ao Chuí, e do blog Só em Nova York, aqui no site da Tpm, e também do site www.taniamenai.com