Camila do Rosário

Artista reúne moda, regionalismos e caneta Bic para criar ilustrações de tirar o fôlego

por Natacha Cortêz em

Quando entrou na faculdade, Camila do Rosário, 23, escolheu o curso de Moda. Nele, a catarinense buscava entender o encantamento que sentia pela roupa e pelo corpo, especialmente o discurso poético intrínseco nessa relação. Mas ela não terminou o curso. Abandonou a moda por um talento apostado por uma professora já no primeiro ano de faculdade: a menina de Florianópolis desenhava lindamente.

Em seu trabalho, apesar da moda ser inspiração constante, - nas roupas vestidas pelas mulheres que desenha e até em seus corpos longilíneos como os de modelos -, temáticas regionais e fantásticas são exploradas. Camila mistura belezas delicadas e frágeis a feições e cores fortes. Veste figuras femininas de forma quase folclórica, como se reunindo todas suas referências ela criasse um universo muito próprio, uma história só sua.

Conversamos com ela sobre as ilustrações e descobrimos uma Camila que deseja usá-las além dos papéis e pincéis. 

"Gosto também de experimentar, vou misturando tudo que tenho na mão, meio alquimista"

 

Revista Tpm - O que te inspirar a desenhar?
Camila do Rosário -
Tudo pode começar com uma música que me atinge. Mas pode começar através de uma imagem, fotografia, outros desenhos, pinturas. Às vezes andando pela rua acabo tendo várias ideias também.

Como funciona seu processo criativo?
Cada imagem tem uma história, não tenho um processo definido.

Quais artistas, entre as artes plásticas, você admira? E quais influenciam seu trabalho?
Cada fase do que faço é um amor diferente. Ultimamente descobri o trabalho de Arnaldo Antunes, que eu gostei muito, por ser o oposto do meu, eu acho. Como tenho estudado um pouco de arte e loucura, recentemente me aprofundei no trabalho do Bispo do Rosário e do Van Gogh. E sempre vejo pela internet afora, e entre alguns amigos das artes, muitos trabalhos legais de gente nova e pouco conhecida.

Você cursou alguns anos da faculdade de Moda. Como ela influencia teu trabalho?
A roupa e o corpo como suporte de um discurso poético sempre me agradou muito. O fato de eu desenhar quase sempre personagens e ter um foco (confesso ser seduzida) na roupa é influência da moda. Eu sai da moda porque me desencantei ao me deparar com o sistema dela, mas não me arrependo de ter feito.

Uma temática recorrente nas suas ilustrações é o regionalismo, percebido por causa de cores vivas e fortes que lembram a cultura do norte e nordeste do país. No entanto, você vive em Florianópolis.  Como esses elementos foram inspirar seu trabalho? Pode nos contar mais sobre essas referências?
O sul também tem suas cores, folclores, só é meio tímido quanto a isso. Mais pra cima eu acho que as culturas populares resistem com mais força. Fiz uma viagem ao norte uma vez, mas quando desenho não gosto de me amarrar a estereótipos de uma região. O Brasil é bem misturado, todos temos influências de culturas tradicionais como a indígena, africana... essa visualidade colorida e tropical está no nosso inconsciente. Essa mistura eu tento trazer pro meu desenho.

Quais as técnicas e materiais que você usa para desenhar?
Nos meus desenhos o que as pessoas acham que é lápis, grafite, na verdade é caneta esferográfica (a Bic). Essa é uma confusão recorrente. Gosto de na imagem ter um espaço de observação, preto e branco, "real", que é feito com a caneta. Gosto também de experimentar, vou misturando tudo que tenho na mão, meio alquimista. Não importa que tipo de material é, ou se algo que deveria estar em um desenho ou não. Aprendi também a aproveitar erros e a partir daí venho desenvolvendo uma técnica manchada, quase ao acaso, com a caneta esferográfica diluída em álcool.

* Para ver suas aquarelas bem de perto, a artista expõe no espaço Urban Arts, em São Paulo, a partir do dia 21 de agosto.

Vai lá: camiladorosario.tumblr.com
Urban Arts - Rua Oscar Freire, 156, Jardins, São Paulo/SP - (11) 3081-6142

 

Crédito: Reprodução
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