Caco Ciocler, 36, o ator que sempre resistiu a bancar o “galã”, abre o peito, tira a camisa e escancara a beleza para a Tpm
Às 14 horas de uma terça-feira, o ator recebe a Tpm antes do café-da-manhã ou do almoço, com o cabelo ainda molhado do banho. Descalço com os pés no sofá, desvia o olhar para o cotovelo da repórter, que esbarra num pé de meia encurralado entre o encosto do móvel e a parede, denunciando a bagunça que ocupava a sala minutos antes. “Hummm… Deixei passar isso quando arrumei”, justifica. Em raros períodos de pouco trabalho, como agora, que só está em cartaz no teatro – depois da maratona de filmagem de Família Vende Tudo, de Alain Fresnot, com previsão de estréia em janeiro de 2009 –, ele se permite deixar roupas, livros, DVDs, sapatos… espalhados pelo apê por semanas.“Me deixa dormir um pouco”, ele pede. O que significa: “Não apareça em casa antes do meio-dia”. Mas Caco Ciocler, um rapaz de família tradicional criado nos Jardins, região nobre de São Paulo, que arruma a casa correndo para receber visita, não seria mal-educado. Muito menos com uma repórter que só queria marcar uma entrevista.
Em casa, Caco é mais bonito do que na TV. O que faz todo sentido quando ele confessa que sempre resistiu ao rótulo de “galã”. “Quando você faz papel de cafajeste ou de bonzinho, já querem te enquadrar num padrão. Eu não tenho esse perfil, meu rosto não é para close. Olha, sou torto”, tenta convencer a repórter, que repara numa cicatriz debaixo da barba do ator. Trata-se do resquício de um insistente tratamento para as acnes que invadiram seu rosto na adolescência. “O galã também é o papel mais chato”, retoma ele, que chamou a atenção ao interpretar o cafajeste Bento Coutinho, na minissérie A Muralha,em 2000.A partir de então, quando fazia o “mocinho” de alguma trama da Globo, Caco dava um jeito de criar esquisitices para se livrar do estereótipo. Por exemplo, como o paramédico Lázaro, na novela Esplendor, ele fez questão de incorporar óculos de grau e um jeito retraído. E, em Duas Caras, deste ano, fazia o advogado Claudius sempre de camisa fechada até o pescoço e certa tensão nas atitudes, tirando qualquer possível sex appeal dos personagens.
Deu certo. Há 13 anos na telinha (com dez novelas e três minisséries), ele não tem fã-clube oficial nem é agarrado por garotas na rua. Quando perguntamos para a mulherada se Caco Ciocler é um galã, a maioria precisa pensar para responder. E a opção “bom ator, que também é lindo” ganha em disparada da “gostosão que dispensa talento”. Ele prefere assim. Mas confessa, em entrevista ao programa de rádio Trip FM, da Eldorado, que, antes de gravar cenas de sexo, sempre diz para a atriz: “Se eu tiver uma ereção, me desculpe. Se eu não tiver, desculpe também”, e ri. Se começasse a carreira hoje, Caco acredita que não seria tão rígido em relação à imagem. “Não querer ser chamado de galã foi perda de tempo e de dinheiro”, admite.
Garoto interrompido
A mudança na maneira de encarar a própria beleza faz parte de uma série de transformações. Aos 36 anos, Caco vive o que revistas de fofoca definiriam como o “melhor momento de sua vida”. Ator tarimbado, se dá ao luxo de protagonizar o espetáculo escrito pelo norueguês Henrik Ibsen, Imperador e Galileu, “sem ganhar um tostão”. Em duas horas “febris”, no papel do imperador Juliano, ele questiona Cristo num texto de 1873 e ainda é capaz de arrancar risadas das senhoras, que representam a maioria da platéia paulistana. Agora, Caco também consegue lidar com questões que antes o perturbavam. Uma delas é a relação com os pais, que ficou tensa desde que, aos 24 anos, ele engravidou a então namorada e atriz Lavínia Lorenzon, aos 21. Ou a culpa que sentia em relação ao filho, Bruno, 12, quando gravava novela no Rio de Janeiro e não podia levar à escola o garoto que hoje quer mais é sair com os amigos. E até sua maneira de encarar a religião.
Caco considera que “tudo começou” em 1995, quando as cortinas se abriram sem que ele tivesse tempo de trocar de personagem. A namorada, não-judia, estava grávida; ele era “um moleque medroso”; e os dois levavam uma vida “hippie, freqüentando festinhas onde todo mundo ficava com todo mundo”, lembra. Seus pais, judeus convictos, assistiam ao espetáculo da platéia. E não achavam graça. Nem aplaudiam. A salvação era que o ator tinha um texto convincente. Acabara de ser convidado para estrear na televisão, na novela O Rei do Gado, da Globo. Ele, inclusive, venceria o prêmio APCA de ator revelação daquele ano. Mas, até então, só sabia que tinha um emprego. Caco estava assustado demais para se deslumbrar com a estréia. Ou para relaxar enquanto pintava as paredes do pequeno apartamento que alugara em São Paulo – depois de ver os preços e desistir de morar em uma cobertura. “A lembrança que tenho desse tempo é de um Caco sério, responsabilizado demais”, diz hoje, sem franzir a sobrancelha. Os pais continuaram chorando por meses. A irmã mais velha, médica, também. Nenhum dos três foi à maternidade presenciar o caçula da família gaguejar enquanto segurava uma câmera de vídeo com as mãos trêmulas, eternizando o primeiro choro de Bruno.
Ateu de sinagoga
Foi nesse ano que Caco largou a engenharia química (na USP). Apesar de fazer teatro desde criança, só entrou na Escola de Artes Dramáticas (também da USP) quando já estudava engenharia. Ele, então, conciliava os dois cursos com o grupo de teatro amador do clube A Hebraica, que o introduziu aos palcos aos 10 anos e à crítica aos 17, com a peça Ecos.
Passou sua infância de menino classe média alta entre o clube e uma escola pequena da comunidade judaica. Caco, que quando criança “era praticamente um religioso”, se considerava ateu até conhecer o seu psicólogo. “Agora entendi que desacreditar já é uma crença. Descobri que minha questão é mais ligada à figura paterna do que a uma idéia de Deus”, diz o ator, que voltou a falar com os pais há alguns anos.
Ainda sem conclusões sobre a própria fé, ele conheceu a atual namorada, que trabalha com cenografia, por intermédio do avô, freqüentador assíduo da sinagoga. “Um dia ele disse que queria me apresentar uma moça de boa família, neta de um colega dele”, conta Caco, que se divertiu com a idéia. Separado da mãe de seu filho desde que o garoto tinha 1 ano e meio, ele gosta de relacionamentos sérios. Mas estava solteiro, depois de namorar a atriz Mel Lisboa por um ano. Prestes a participar do longa O Dia de Ontem (ainda sem previsão de estréia), descobriu que encontraria a tal menina indicada pelo avô no set de filmagem. Até que, na última hora, ela foi substituída por Marina Previato, 24, que assinou a direção de arte no filme. Na vida real, o final feliz: Marina e Caco namoram há um ano. Há quatro meses, Marina está em Barcelona, para onde o ator foi para passar cinco dias, pouco antes desta entrevista, porque não agüentou de saudade. Depois foi para Fernando de Noronha concluir o curso de mergulho. E, enquanto casar de novo está na idéia – “você vai ficando velhinho e começa a pensar nisso”–, ele curte a cobertura que comprou há dois anos, num bairro classe média de São Paulo. Vive lá sozinho. E em boa companhia.
Calça Figurino da peça Imperador e Galileu Regata Redley Camisa VR Menswear Blazer Alfaiataria Paramount Calça Angelo Litrico para C&A Camisa Base Calça preta Figurino da peça Imperador e Galileu; regata branca Redley; regata Mash e calça cinza Urânio regata Redley
Estilo Gaia Prado Maquiagem Leandro Flandes (BLZ) Agradecimento Sesc Pompéia
