Blog de Shaun Usher desenterra cartas enviadas e recebidas por personalidades de todos os cantos
Cartas extraordinárias reúne 125 exemplares deste elo perdido da comunicação humana: a correspondência postal
É raro, hoje, alguém parar e escrever uma carta. Elas fazem parte da categoria de coisas que começam a voltar para o seu planeta, assim como os hidrantes e os telefones públicos. Os e-mails também parecem tomar o caminho de volta – em pesquisa recente, o Ibope mostrou que, com o Facebook e o WhatsApp, apenas 1% de jovens entre 10 e 19 anos acessa o e-mail quando está em casa.
Neste contexto, poderíamos dizer que o inglês Shaun Usher é uma espécie de arqueólogo dos afetos postais. Desde 2009, ele desenterra cartas enviadas e recebidas por artistas, cientistas, escritores, políticos e personalidades de todos os tipos e as publica em seu blog, Letters of note. Sua investigação virou livro, Cartas extraordinárias, uma compilação de 125 missivas (e fac-símiles da maioria delas), que chega este mês ao Brasil, pela Companhia das Letras.
No volume, a rainha Elizabeth II envia ao presidente dos Estados Unidos Dwight D. Eisenhower sua receita secreta de scones (bolinhos famosos entre ingleses e escoceses na hora do chá); um jovem Fidel Castro, aos 12 anos, escreve ao presidente norte-americano Franklin Roosevelt pedindo uma nota de dez dólares; Hemingway dá seus pitacos sobre o então recém-lançado Suave é a noite em carta a Scott Fitzgerald; e um gerente de produto das sopas Campbell anota: “Prezado Sr. Warhol, quero dizer-lhe que admiramos sua obra e que eu soube que o senhor gosta de sopa de tomate.Tomo a liberdade de enviar-lhe algumas caixas de nossa sopa de tomate, que serão entregues nesse endereço”.
Para Andy Warhol há também uma carta de Mick Jagger, passando coordenadas sobre a realização da capa do clássico Sticky Fingers, que Warhol faria em 1969. E Jack Kerouac e Mario Puzo escrevem a Marlon Brando, pedindo que atue nas adaptações de On the road e O poderoso chefão.
Há ainda cartas de amor (Zelda Fitzgerald em chamas), pânico (um telegrama informando que o Titanic está indo a pique), pedidos de emprego (Leonardo da Vinci para um governante de Milão), rejeição de originais (o editor Arthur C. Fifield para Gertrude Stein) ou cartas de absoluta ternura, como essa, enviada pelo jovem John W. James III, de 8 anos, para o presidente dos Estados Unidos Richard Nixon, em 12 de julho de 1973:
“Querido presidente Nixon,
Eu soube que o senhor está com pneumonia. Saí do hospital ontem e estava com pneumonia e espero que o senhor não tenha pegado pneumonia de mim. Agora o senhor tem de ser um bom menino e tem de comer a verdura assim como eu tive!! Se o senhor tomar o remédio e as injeções, vai sair em oito dias como eu. Com amor, John W. James III”