Antonia Pellegrino faz uma pergunta para Maria Ribeiro
Antonia pergunta quais são os problemas de se casar com alguém do mesmo ramo
94. Antonia Pellegrino* - Você é atriz, seu primeiro marido é ator, o Caio é ator. Onde vocês se ajudam, se encontram, se desencontram, competem, são parceiros, enfim, como é ser casada com alguém da mesma profissão?
95. Maria Ribeiro* - Nunca pensei em me casar com atores e, se pensasse, não casaria, não é fácil ver seu marido beijando mulheres lindas.
Fiquei oito anos casada com o Paulo Betti, e não lembro de conversarmos sobre o ofício. Também nunca bati texto de novela com o Caio. Invejo sua disciplina. Quando fizemos teatro, e foram duas vezes pra nunca mais, ele sabia, na primeira semana, o texto de todos os atores. Que ódio! Eu fico pronta, se é que fico, na véspera da estreia.
Quando filmamos juntos, quase nos matamos. Porque o Caio já fez 15 longas e vivia querendo me dar "toques". E eu, que já acho difícil obedecer ao diretor, não vou ser dirigida pelo meu marido!
Você me pergunta se competimos. Pouco. Nos fazemos companhia mais do que competimos. Agora, Caio vai filmar com o Cao Hamburguer a história dos irmãos Villas-Boas. Eu morro de orgulho e vejo com ele a pesquisa sobre o Xingu. Talvez, se não fosse atriz, teria mais dificuldade em aceitar que meu marido vá passar dois meses longe de casa. Por outro lado, a Marina, mulher do Amyr Klink, segura uma onda maior do que a minha. Ouvi dizer que ela separa um lote de Playboy para acompanhar seu digníssimo esposo em cruzada tão solitária, e estou pensando em fazer o mesmo com o meu indigenista.
Outra questão difícil é manter alguma individualidade. Num mundo de Caras e Twitter, gostaria que não soubessem com quem sou casada pra que seja possível fazer crer, num futuro próximo, que sou a mulher do Capitão Nascimento. Não sei se convenci alguém. É que adoro ser casada com um ator, porque só um psicopata entende outro. E, quando sofro por ter feito uma cena em que dei a intenção errada, ele me ouve. Se fosse engenheiro, dormiria no meio do discurso. Como ator, saberá fazer uma expressão de interesse e compreensão que imediatamente me confortará. Mesmo que seja mentira.
(*) Para comemorar a Tpm#100 conversamos com 100 mulheres. Veja todas aqui