Anita Roddick e Nora Ephron

Mulheres incríveis provam que viver muito pode ser um privilégio, e não uma saga

por Tania Menai em

Cena de Harry e Sally, que Nora escreveu - Crédito: Reprodução

No fim de junho passado, fui pega de surpresa ao saber da morte de Nora Ephron.

Nora, aquela americana que, com humor ímpar, escreveu Harry e Sally, Julie e Julia, Mensagem para você, Sleepless in Seattle (Sintonia de amor – que tradução é essa?).

Ela foi jornalista, escritora, roteirista e, melhor ainda, foi amada e idolatrada. Nora morreu de câncer – mas deixou pronto um roteiro, intitulado “The End”, para uma cerimônia em sua memória, que aconteceu para 800 convidados no Lincoln Center, em Manhattan, Nova York, cidade que ela amava.

Ela só tinha 71 anos, trabalhou até os últimos dias e deixou a sensação de que poderíamos ainda ter uns 20 anos a mais de bons filmes e textos. Que pena.

Anúncio da The Body Shop que diz “Celebre sua idade. O único jeito de prevenir rugas é viver no espaço sideral ou nunca sorrir de novo” - Crédito: Reprodução

Nora é autora de I feel bad about my neck (com o péssimo título em português de Meu pescoço é um horror), livro de crônicas hilárias, uma delas sobre o pescoço enrugado que ela tentava esconder. Até isto, as rugas do pescoço, ela levava com humor e leveza. Tudo bem, ela podia até usar uma gola rulê, mas ela tinha mais, muito mais para mostrar. Duvido que alguém que trocasse um dedo de prosa com uma mulher inteligente dessas iria reparar apenas no seu... pescoço. Seria triste demais. No livro, essa é a única crônica que trata do assunto; as outras falam de dezenas de outros aspectos da vida, incluindo uma gozação às bolsas de luxo.

A escritora vai fazer tanta falta quanto a inglesa Anita Roddick, fundadora da The Body Shop, loja de cosméticos que sempre desafiou o setor. Não se entrava em uma The Body Shop se deparando com uma foto da Gisele Bündchen na parede. “Isso intimida”, alertava Anita. A marca nasceu com as ideias de não testar os produtos em animais, jamais proibir as mulheres de envelhecer e apostar em frutas e castanhas de cooperativas de países em desenvolvimento como matérias-primas. Tive a honra de entrevistar Anita há mais de dez anos, e nunca esqueci a vitalidade daquela guerreira. Ela também morreu de câncer, aos 64 anos, em 2007.

Ambas ensinaram – para quem quer aprender – que existe algo chamado nobreza de envelhecer. Tudo bem, ainda não cheguei lá, é fácil falar. Mas basta olhar para gente que pensa grande e ver que viver muitos anos, e bem, é um privilégio, e não uma saga. A nobreza de envelhecer foi o título, inclusive, de uma exposição do fotógrafo do The New York Times Chester Higgins Jr., que saiu registrando cabeças brancas e mentes vividas. Uma inspiração para quem quer viver olhando para a frente – e não para trás.

Tania Menai é jornalista, mora em Manhattan há 17 anos e é autora do livro Nova York do Oiapoque ao Chuí, e do blog Só em Nova York, no site da Tpm. Saiba mais em www.taniamenai.com

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