Amamentar não é vergonha!
Após ser proibida de dar de mamar em público, Geovana Cleres iniciou uma campanha que acabou com a aprovação da lei que garante o aleitamento materno em São Paulo
"No dia 13 de novembro de 2013 estava com a minha filha Sofia, na época com 1 ano e 4 meses, no Espaço de Brincar do Sesc Belenzinho, em São Paulo. Eram 18 horas e Sofia me pediu para mamar. Naturalmente eu a coloquei no meu colo e lhe dei o seio. No mesmo momento veio uma monitora do espaço e disse: "Senhora, não é permitido amamentar aqui".
Fiquei constrangida e tirei Sofia do peito. Ela, claro, começou a chorar. Depois de acalmá-la, fui até a monitora questionar a proibição. Ela disse que era a regra: não era permitido "comer" ali. Insisti, e ela confessou: "Recebemos reclamações de adultos que se sentiram constrangidos ao ver uma mãe amamentando". Perguntei se dar mamadeira era permitido, e a resposta foi "sim". Retruquei: "Mas minha filha não toma leite na mamadeira e sim no meu peito".
No mesmo dia fiz um desabafo no Facebook. A repercussão foi grande, inclusive na imprensa. Um dia depois, fui procurada pela Reila Miranda, fundadora da Casa da Borboleta, um espaço de apoio ao parto humanizado e à amamentação. Ela disse que estava organizando um 'mamaço' por conta do meu caso e dos de outras mães que haviam sido proibidas de amamentar naquele espaço. O gerente de atendimento do Sesc me procurou lamentando o ocorrido e dizendo que houve uma falha de comunicação. Ele acrescentou que o Sesc iria apoiar o mamaço.
Foi incrível participar do mamaço. Me senti acolhida e fortalecida vendo todas aquelas mães dando de mamar aos seus filhos. Sou tímida, e expor a mim e a minha filha nas redes sociais teve um preço alto, recebi críticas machistas e preconceituosas, cheias de moralismo. Mas eu faria tudo de novo porque é preciso acabar com esse tabu em torno do corpo da mulher. Um corpo que é vendido pela mídia como um produto rentável, mas quando se trata de amamentar se torna motivo de constrangimento! Amamentar é natural e instintivo, não deve ser considerado constrangedor. É preciso estimular a amamentação, que traz benefícios à saúde dos bebês e estimula o vínculo entre mãe e filho.
Após o mamaço, soube que o vereador Aurélio Nomura se sensibilizou com nosso protesto e protocolou um projeto de lei prevendo multa para estabelecimentos que proibem a amamentação. A aprovação da lei ocorreu em abril deste ano. Vitória. Me sinto feliz em saber que nossa indignação levou à criação dessa lei. Espero que sirva para a conscientização da sociedade para a importância de amamentar.''
*Geovana Cleres, 35 anos, é turismóloga e mãe de Sofia, hoje com 2 anos e 10 meses