Algo concreto

A rapper argentina Alika conversou com a Tpm sobre música, política e barreiras culturais

por Redação em

Por Endrigo Chiri Braz e Fernanda Paola

Entre o ritmo e a poesia ela floresce. E como uma das mais belas e contundentes do jardim. Uma rosa entre uma legião de cravos. Morena escura, cabelo rastafári, rosto perfeito, atitude de mulher. Assim é Alika, uma bela “cantante” argentina que diz o que pensa e espera, com isso, mudar o mundo. Alika compõe há quase 15 anos, e suas letras são carregadas de mensagens políticas e sociais. É poesia do povo, e para ele. Fã dos Racionais Mcs, atualmente, Alika, ao lado da banda Nueva Alianza, se apresenta em casas lotadas por toda a América Latina. Ainda falta o Brasil. Na entrevista abaixo, ela fala da barreira do idioma, da discriminação no hip hop e de “otras cositas más”.

Há quantos anos você compõe? Como começou na música? Comecei a escrever algumas letras em 1994, até então só escutava muita música, gosto muito de hip hop. Em 1999, comecei a produzir minhas próprias músicas.

Suas canções são carregadas de mensagens políticas e sociais. Em suas letras, luta pelas coisas em que acredita e aponta o que julga estar errado. Você acredita que é possível mudar a cabeça das pessoas pela música?
Uma das razões de eu fazer música é porque estou convencida do poder da palavra e do som. Isso tem a ver com comunicação, com transmitir sentimentos, com cultura, com a história de um país, de um povo, de uma nação, com sua memória. Estamos [Alika e a banda que a acompanha, a Nueva Alianza] expressando nossa realidade nas músicas e falando de muitas coisas que não se vê na televisão, nem se aprende nas escolas. Acredito que sim, que muitas coisas podem mudar, algumas pessoas podem começar a pensar em coisas que antes não pensavam, por exemplo.

O povo argentino é muito politizado, faz manifestações e passeatas com freqüência. Você acredita que essa seja uma forma de mudar as coisas?
Sim, fazemos muitas manifestações aqui, o que me parece bom no sentido de que se pode ver o descontentamente do povo, que não estamos conformados, mas para mudar as coisas, sem dúvida, é preciso mais que isso.


Quais são os principais problemas políticos e sociais da Argentina? Os mesmos do Brasil. Nas perfiferias argentinas faltam educação, saúde, comida e trabalho.

Quem são suas referências musicais e ideológicas? Tenho muitas referências musicais. Escuto muito hip hop e reggae, grupos como Dead Prez, Anthony B, Sizzla, Public Enemy, Tupac, Bone Thugs’n’Harmony, Busta Rhymes, Outkast, Capleton, Da Lench Mob, Bob Marley, uhhh, são muitos. E minhas referências ideológicas são todas as pessoas que lutaram pela liberdade: Haile Selassie, Marcus Garvey, Patrice Lumumba, Che Guevara, Malcom X, Angela Davis, Kwame Krumah… são muitos também.

De onde vem sua conexão com a música jamaicana?
Os grupos de hip hop de que mais gostei sempre foram os que misturavam hip hop com reggae, como, por exemplo, Poor Righteous Teachers e Das Efx. Foi daí que comecei a me interesar por reggae e ragga.
 
Um dos grupos mais importantes de hip hop no Brasil são os Racionais MCs. Você os conhece? Nas músicas deles, falam sobre as injustiças sociais, a desigualdade social, e são como porta-vozes da população pobre do Brasil. Com você acontece a mesma coisa na Argentina?
Sim, eu conheço os Racionais, tenho dois discos deles e respeito muito o trabalho que fazem. Sinto que se passa o mesmo comigo porque muita gente na Argentina se identifica com as coisas que faço e digo. Os grupos de hip hop de que mais gostei sempre foram os que misturavam hip hop com reggae, como, por exemplo, Poor Righteous Teachers e Das Efx.   Sinto que se passa o mesmo comigo porque muita gente na Argentina se identifica com as coisas que faço e digo.

Você se apresenta em muitos países da América Latina, mas nunca esteve no Brasil. Você pensa que falta mais união, mais intercâmbio cultural, entre os outros países latinos e o Brasil?
Não é fácil fazer conexão com o Brasil para tocar aí, por exemplo. Seria bom ter mais intercâmbio.

O Brasil sempre está mais distante dos outros países latinos. Não conhecemos muitos grupos da Argentina e vice-versa. Você acha que é uma barreira imposta pela língua?
Acho que sim, um dos motivos pode ser o idioma.
 
Você sofreu algum tipo de preconceito ou discriminação por ser mulher, em um ambiente tão masculino como o hip hop?
Discriminação não. Acredito que me custou bastante para conquistar meu espaço não por eu ser mulher, mas sim por ter optado por fazer meu trabalho de forma independente. Tenho muitos amigos homens dentro do hip hop com os quais mantenho uma relação de amizade e respeito.

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