Adolescentes em tempos mothernos

As Motherns questionam a sociedade do controle, mas adaptam a corujice à vigilância virtual

por Juliana Sampaio em

 

Não, este não é um texto sobre boas maneiras. Nem sobre educação sexual ou sentimental. Nem sobre drogas, vida escolar, violência urbana, uso da internet. Pelo menos não diretamente. Foi assim:

Tarde normal de sexta-feira. Sogra telefona:

– Filho, eu estou ligando pra sua casa e ninguém atende. Os celulares também não atendem. Será que está tudo bem?

– Ah, deve estar, mãe. Vou dar uma ligada lá.

Marido liga para mulher:

– Oi, tudo bem?

– Tudo. E aí?

– É que... você falou com as meninas hoje à tarde?

– Não...

– É que eu tô ligando há algum tempo e ninguém atende lá.

– Ué. Vou dar uma ligada.

Mulher para marido, meio tensa, meia hora depois:

– Ninguém atende, mas deve estar tudo bem. Só que agora eu não consigo mais trabalhar. Vou lá ver o que está acontecendo.

Mulher para marido, já a caminho:

– Não tô on-line, mas tive uma ideia.

– Chamar a polícia?

– Não. Entra no Twitter dela.

– Qual é o nome mesmo?

– ...

(pausa nervosa)

– Tem um tweet lá de 2 minutos atrás.

– Ah. Sobre o quê?

– Sobre um filme que tá passando na TV agora.

– Ah, tá.

– Então tá em casa, né?

– É...

Então a gente pensa. A sociedade da vigilância e do controle não permite que a gente fique fora de contato nem por poucas horas. Avós, pais e mães são paranoicos mesmo, mas não passe apertos nem pague micos desnecessários. Se sua criança está crescendo e é meio geek, não é preciso sair do trabalho pra saber se está tudo bem. Se quiser saber onde/ como/com quem está sua/seu filha/o no mundo real, procure no virtual. Porque é como dizem: o mundo (tal como o conhecíamos) está acabando mesmo.

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