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Batemos um papo com a cantora Ana Cañas sobre seu novo CD Hein?, novas cantoras e a fama
Com um pé no tropicalismo, muita guitarra e o apoio da experiência de Liminha, Arnaldo Antunes e Dadi a cantora Ana Cañas acaba de lançar seu segundo disco: “Hein?”. Batemos um papo com a cantora para saber mais sobre como está sendo essa nova fase, além de outras curiosidades.
Este cd é bem diferente do anterior, o que mudou? Na verdade, não houve uma “mudança”. Esse disco novo traz uma descoberta nos palcos da estrada do show Amor e Caos. Interpretando músicas de Cazuza, Raul Seixas, Itamar Assumpção e o próprio Gilberto Gil ("Chuck Berry Fields Forever" é uma música que entrou nesse show) senti que tinha um lado meu que não estava exposto no primeiro disco. Depois de ouvir muitos: “O seu show é melhor que o seu disco” saquei que tinha esse lado que eu precisava registrar num segundo momento, num próximo disco.
Você tem alguma preocupação em se diferenciar das “novas cantoras” que se destacaram nos últimos anos? Não. Tenho apenas uma preocupação: ser honesta, verdadeira. Acho que isso é o que nos torna únicos. Assim como tenho a certeza de que elas também têm essa busca.
Uma música no seu cd novo fala de não fazer nada. Você consegue ficar um dia “sem fazer nada”?
Consigo ficar vários! Tem coisa melhor ou coisa mais necessária do que não fazer nada?!!
Você se preocupa com a imagem que transmite para as pessoas? Como imagina que as pessoas te interpretam? Que rótulos elas usam? Tenho a preocupação de ser real. De levar às pessoas o que estou pensando e sentindo de verdade. Se você bebeu um pouco isso pode aparecer também! Não gosto de pensar em “como as pessoas me imaginam”, mas posso ver através do olhar o que elas estão sentindo também. As pessoas não usam rótulos, não sinto isso. Pelo contrário, sinto um interesse, uma curiosidade sobre o trabalho, o que é muito bom. Todos nós podemos ter preconceitos. Estou trabalhando intensamente para transformá-los em pós-conceitos!
Como surgiram as parcerias deste novo cd? Surgiram de uma forma muito natural. Dadi, Arnaldo Antunes e Liminha são pessoas abertas, receptivas e generosas. É um privilégio contar com a “ajuda” deles! Foi muito enriquecedor sem dúvida.
Você aparece como autora de muitas faixas. É dolorido o processo criativo? Como a inspiração vem pra você? Nada dolorido! É prazeroso! Quando eu estou num boteco pé sujo na madruga, com amigos tocando, às vezes, até dormindo. Já acordei no meio da noite para escrever letra. Um bom filme, uma boa música também são muito inspiradores! Lembro que escrevi a letra de “O Amor é Mesmo Estranho” depois de assistir ao filme “Gran Torino”. O que tem a ver o cú com as calças, não sei, mais com certeza, me inspirou!
Sente que composições próprias te expõe muito? Sim. Mas esse é o lance. Temos que expor o que sentimos, muitas vezes coisas que aconteceram na nossa vida, mas de uma forma que outras pessoas também possam se identificar. É sempre um desafio delicioso fazer uma música.
Já se sente famosa? Não. Mas sinto que existem pessoas legais acompanhando o trabalho com muita atenção, e de forma carinhosa.
O que você escutava quando era mais nova que não consegue mais ouvir? Roxette. (Ah! Adolescência...)
Que sons do dia-a-dia são inspiradores pra você? Passarinho assoviando, Nina Simone, Neil Young, Iggy Pop, e uma pessoa cantando baixinho uma melodia. Isso sempre me inspira.
Que disco você escutou até “furar”? Odelay (Beck).
Qual seu sonho mais recorrente? Uma borboleta que sai da garganta das pessoas enquanto elas conversam. E sonho muito com o meu pai também (que já é falecido).
Você canta pra você ou para os outros? Para mim e para ou outros. Aprendi que não dá para amar os outros e ser amado se você não fizer isso com você e por você em primeiro lugar.
O que te dá prazer ultimamente? Vinho, cachaça, pão com manteiga. Amigos que só falam de música, Fellini...
Complete a frase. Um dia feliz é um dia que... a gente sente o amor.
Que instrumento melhor complementa a sua voz? No momento, guitarra. Estou apaixonada por elas...