''Aborto e topless são proibidos? Como?''

''Como assim o aborto não é legalizado no Brasil? Mas em que tempos vocês estão, nos anos 50?''

por Nina Lemos em

Crédito: Manuela Eichner

"Como assim o aborto não é legalizado no Brasil? Mas em que tempos vocês estão, nos anos 50?", diz Nina Christina, uma alemã de 36 anos que olhava para mim com espanto. E eu arrematei: "O topless também é proibido". Pronto. Ela entrou em choque. Esses dois tópicos costumam chocar moças e moços além mar. Ninguém se conforma que no Brasil, o país da liberdade sexual, o aborto seja proibido. E muito menos o topless. "E aquelas bundas na praia? Aquilo pode?", pergunta Nina. Desisto de explicar. E ela volta a falar do aborto. "Mas eu não acredito, isso é um escândalo."

Na Alemanha o aborto é legalizado desde 1977 na parte ocidental. Já na antiga Alemanha comunista é legal desde 1974. Hoje, funciona assim: se você está grávida e quer abortar, deve ter autorização de dois médicos. Com a autorização na mão, você vai a uma clínica legal e o procedimento será pago pelo seu plano de saúde. 

Andreia Prado, que vive em Lisboa, também já perdeu a conta de todas as vezes que teve que explicar que em seu país de origem o aborto é proibido. "Ficam chocados. Todo mundo acha que o Brasil é superlibertário. Quando eu falo que as mulheres não podem fazer topless em Copacabana tem gente que simplesmente não acredita. Eles não sabem que o Brasil é hipócrita", diz a administradora de empresas. Ela conta que o aborto foi legalizado em Portugal em 2007 depois de um referendo popular. 

O aborto é legalizado em quase todos os países europeus (com diferenças nas leis). Mas, alguns, como a Irlanda, conseguem ser mais conservadores que o Brasil. "Aqui é totalmente proibido. Soma-se a isso a maioria da população ser contra o casamento gay e existirem escolas separadas para meninos e meninas", conta a produtora Marieta Scatimburgo, que vive na Irlanda. "Mas todos acham que o Brasil é liberal. Que nossa realidade é outra."

Sai para lá, complexo de vira-lata. Agora, temos que concordar com as gringas. O aborto não ser legalizado no Brasil (e nem o topless) é surreal. Venham para a luta, companheiras gringas!

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