A volta (assustadora) do espartilho
Ainda existe gente especializada em fazer a peça que modelava a cintura da Scarlet O'Hara
Sempre achei a Scarlet O’Hara com aquela cintura fina o máximo. Pronto. Falei. Por isso saí em busca de um espartilho – ou corset – de verdade (não esses de imitação). E não é que encontrei? Existe em São Paulo uma mulher que se autodenomina “corsetmaker”, a bela Madame Sher. Com ela vislumbrei um mundo de pinups cujas cinturas permanecem fininhas sem o espartilho. Sem lipoescultura e sem tirar costelas (medo!).
Trata-se do mundo do tight lacing, TL (algo como “laço apertado”), em que o uso de espartilhos por longos períodos faz a cintura diminuir permanentemente (de novo, medo!). Resolvi fazer um teste, mas lembrei de tristes histórias de mulheres vitorianas que morreram esmagadas por espartilhos.
Madame Sher me tranquilizou: “Os modelos atuais são seguros”. Já ia tirar minhas medidas, segundo um diagrama do site, quando resolvi pesquisar mais. Encontrei outra corsetmaker, Rose Sathler, que me animou mais, falando como o espartilho valoriza todos os atributos femininos. Mas, quando Monique, também do ramo, me explicou que o TL, aos poucos, muda a forma das costelas e comprime os órgãos internos, entre eles o estômago, fazendo com que o praticante tenha menos fome, uma luzinha vermelha se acendeu.
Levei à Madame Sher também o seguinte questionamento: a abolição do uso dos espartilhos não foi tida como um dos avanços em direção à liberdade feminina? O TL não seria um passinho para trás? Madame me respondeu: “Uma mulher bem informada pode tirar benefícios do uso da peça que, hoje, é um símbolo de sensualidade”.
Decidi pensar melhor. E, depois de enviar este texto para a Redação da Tpm, sei que não farei meu espartilho. As meninas da revista não vão deixar.
P.S. A Tpm é radicalmente contra o uso de espartilhos e continua sua campanha de sempre: IMAGEM NÃO É TUDO!