Vida de camelô
Laillane e Renata ganham a vida com comércio de rua. Trabalham duro para sustentar a família mas não pretendem achar um emprego formal
Considerada o maior centro comercial da América Latina, a rua 25 de Março em São Paulo não tem dia nem hora para lotar. São diversos camelôs, lojas e muita gente. Sob um sol de 40 graus, Laillane vende carregadores portáteis e paus de selfie. Tem 28 anos, é natural de São Paulo e há um ano trabalha com comércio de rua. "Começo às 10 e termino umas 18 horas, vim pra cá por falta de emprego", diz. Como auxiliar de limpeza tirava um salário mínimo por mês, hoje sua renda é mais que o triplo, cerca de R$ 2.400.
Laillane tem um filho de 7 anos e mora com seu marido, que é pedreiro, na zona leste da capital paulista. Sua mercadoria vem do próprio comércio local e a luta diária é para despistar o rapa. "Já perdi muito produto para eles. Tem que ter jogo de cintura. Além da concorrência, tem muito machista querendo nosso espaço, nos mandando lavar louça", afirma. Depois de alguns minutos de conversa alguém grita: "Olha o rapa!", e Laillane sai correndo. "Se tentarmos pegar a mercadoria apreendida de volta, levam a gente para um quarto e podem até nos bater. Uma vez quase me deixaram pelada", contou por telefone alguns dias depois.
A realidade de Renata, que trabalha ali do lado, é diferente. Dos seus 33 anos de idade, 15 foram como vendedora nas ruas do centro. Mas nunca precisou correr. Aluga a lateral de uma barraca com licença da prefeitura – paga R$ 700 por semana –, vende bugigangas da moda. "Tem épocas que ganho mais. Quando entra uma modinha como a Frozen, é estouro. Depois, tem que correr atrás do prejuízo", diz. O dono da barraca vive do aluguel, aparece por lá só de vez em quando.
Renata acorda às 6 da manhã e volta para casa, no Grajaú, às 20 horas. Ela mora com o marido, que conheceu no comércio ambulante, e tem uma filha de 7 meses que passa o dia com a cunhada. Pretende achar um emprego formal? "Não. Não trocaria isso por um escritório. Aqui eu tenho minha liberdade."