A Paris de Pedro Sá
Músico fala sobre a sua relação com a cidade
Depois das petites entrevistas com os músicos Marcelo Callado e Ricardo Dias Gomes, tava faltando perguntar ao terceiro integrante e mosqueteiro da banda Cê quais eram os seus lugares favoritos em Paris.
Pra quem também é músico, tem até dica de lojas de instrumentos. Falaê, Pedro!
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Sua primeira vez em Paris: como e quando?
Fui pela primeira vez no outono de 1999 junto com a turnê do show “Na Pressão”, do Lenine. Foi a primeira cidade da Europa que eu visitei na vida. Dividi quarto com o meu amigo Kassin... ah, era tudo novidade! Do que eu gostei de cara é que dá pra andar pela cidade inteira à pé e, mesmo sem roteiro pré-definido, tudo acontecia. Paris é muito comunicada, pulsante: sempre pinta algo no caminho, um cinema, uma exposição, um show etc. Passamos uns quatro dias hospedados em um hotelzinho em Pigalle, justamente onde se concentra grande parte das lojas de música – dentre elas a La Pedale, uma loja de pedais de guitarra incrível e que eu passei a ser frequentador. Também tinha uma de guitarras usadas fantástica bem na frente do nosso hotel. Íamos todos os dias e o dono já não aguentava mais a gente! Teve um dia em que ele chegou a fechá-la só porque nos viu chegando. Achei a luz da cidade linda, parecida com a do Rio no outono, como se sempre tivesse um filtro, um rebatedor, sei lá... em Paris, qualquer imagem que vemos pode ser um cartão postal. Mas estranhei a dureza das pessoas: achei o tratamento muito ríspido entre os parisienses, mesmo entre os africanos e árabes.
E qual é a sua relação com a cidade?
Paris é uma cidade pra onde sempre volto – e cada vez gosto mais. Como sempre vou para tocar, acabo ficando pouco tempo: dois, três, cinco dias de estadia no máximo. Acho que é uma cidade para ser descoberta, com uma concentração enorme de coisas muito foda e únicas. Mas também tem muita superficialidade justamente por ser muito turística. Isso é outro ponto em comum com o Rio. Isso acontece também com as pessoas daí; que a princípio me pareciam ríspidas mas que, com o tempo, fui conhecendo e hoje me é familiar. Eu adoro Paris e esses últimos shows que fizemos com o Caetano no Grand Rex foram incríveis! Que público atento e caloroso!
Quando em Paris, quais lugares você não deixa de visitar?
Gosto sempre de inventar um novo programa, descobrir lugares. Por exemplo, há tantos lugares bons para comer... mas tem que pesquisar, correr atrás, procurar saber. Sem falar nos lugares de passeio, há mil opções incríveis. Eu já fui umas dez vezes pra Paris e nunca fui ao Louvre nem à Torre Eiffel. Na verdade subir a Torre é coisa que jamais farei, tenho muito medo de altura! E ir ao museu tem o problema de que você vê menos a rua. Mas dessa última vez vi uma exposição do Cartier Bresson no Centre Pompidou e fiquei muito impressionado. Aliás, o Pompidou em si já é um programaço! O acervo é super foda, as exposições sempre interessantes e a vista que se tem da cidade é única. Além de ter aquele pátio maravilhoso em frente aonde todos se sentam para descansar depois daquela enxurrada de informação que experimentamos dentro do museu.
E o que você descobriu de novo dessa última vez?
Várias coisas. Adorei o teatro Grand Rex, nunca tinha tocado lá. A arquitetura é linda e, como originalmente era um cinema, tem todo aquele glamour das antigas salas de exibição. A plateia quase entra no palco! Inesquecível. Fui também ao subúrbio na casa de uns amigos, o que é muito diferente mas muito legal, outra Paris. Com mais espaço, era uma festa no quintal com churrasco e tudo. Rola um clima mais "perifa", com muito mais africanos e árabes na rua. Também fui a um restaurante que servia uns vinhos naturais incríveis. Aliás, para quem gosta de comer e beber bem, Paris é infinita.
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Paris é infinita e o agradecimento do Nos Ares também :)
Pedro Sá tem 42 anos e está envolvido em vários projetos bacanas dentre eles: a Orquestra Imperial (cujo swing coisa fina não carece de apresentação); uma dupla de improvisação com Domenico Lancellotti chamada Vamos estar fazendo; a produção dos últimos discos de Moreno Veloso, Jonas Sá e Rubinho Jacobina e diversos outros trampos.
“Tenho a sorte de ter um grupo grande de amigos que produz muita música boa junto, então são milhares de projetos que se encadeiam sem parar”.