A mulher e o agronegócio
A Tpm entra no baile e investiga o revelador fenômeno das mulheres agribusiness
Passa cartão? O MC Jair rima assim: “Pode vir na posição, pode vir na posição, vacilar na brincadeira, leva um ‘passa-cartão’”. Nem me arrisco a descrever aqui a nem tão nova coreografia dos bailes funk. Faltam palavras capazes de descer até o chão. A única maneira de entender do que se trata é dar uma olhada (antropológica, claro) no YouTube, essa quitanda virtual em que todo dia é dia de feira. Digita lá alguma coisa como “passa cartão, MC Jair” que vem.
A reação da plateia, você vai ver, se é que já não viu, está à altura do espetáculo.O coro de vozes masculinas faz os mais explícitos comentários sobre as performances calipígias. As moças sorriem como se estivessem elogiando a cor de seus olhos. Retribuem com um pisca-bumbum, duas palavras que resumem perfeitamente a ação. Nem poderia ser diferente. Afinal, a música continua, “se ficar na minha frente, rebolando até o chão, não adianta reclamar, vou passar o meu cartão”. Metáfora é mesmo uma figura de linguagem fascinante.
O agronegócio do funk movimenta R$ 10 milhões por mês, só no Rio de Janeiro. Tudo gira em torno da – como evitar a palavra exata, le mot juste? – abundância. Uns 4 ou 5 mil vão para a conta de Andressa Soares, bem mais conhecida como Mulher Melancia. Apesar da flagrante injustiça tanto com a mulher quanto com a melancia: se a fruta propriamente dita dificilmente passa dos 75 centímetros, a bunda exibe orgulhosos 121 centímetros de circunferência. Coisa de melancia da Monsanto, geneticamente modificada.
Tpm entra no baile e investiga o revelador fenômeno das mulheres agribusiness e como sua influência vai muito além do funk. Está na página 36. Vai lá, antes que alguém resolva aprimorar, por assim dizer, a coreografia do cartão, substituindo a deslizante tarja magnética por um intrusivo cartão de chip.Melhor nem imaginar.
Fernando Luna, diretor editorial