A mulher, a mobilidade urbana e o medo

Em levantamento no perfil da Tpm no Instagram, elas contam que vivem com medo quando o assunto é circular pela cidade. Mas, também falam sobre os sonhos

apresentado por 99

Insegurança. Furto. Roubo. Abuso. Assédio. Estupro. Essas são algumas das respostas enviadas por mulheres à pergunta “Qual é o seu maior medo quando falamos em mobilidade?”. Se você é homem, talvez nada disso faça muito sentido, mas, para elas, o medo de caminhar pelas ruas de qualquer cidade é um sentimento que anda ao lado. “Sair sozinha já é sinônimo de medo”, resume bem uma das mais de mil respostas de uma enquete realizada no perfil da Tpm no Instagram, no último mês de abril.

Contra a insegurança, muitas mulheres chegam até a se arriscar mais, como explica Daniely Votto, consultora de políticas públicas com ênfase em mobilidade e gênero. "Como as cidades são pensadas para os homens, muitas vezes elas preferem andar no meio da rua, correndo o risco de serem atropeladas, do que caminhar em uma rua mal iluminada, com calçada estreita e cheia de arbustos altos, que podem servir de esconderijo para alguns tipos de crimes", diz a especialista.

De acordo com Daniely, as mulheres também optam por caminhos mais longos em busca de ruas mais movimentadas. “O poder público precisa estar atento a isso e resolver esse problema”, afirma. Mas, por que isso ainda não é feito? “Não é prioridade dos governos e, sendo assim, acaba não sobrando dinheiro para investimentos em obras públicas e campanhas que tentem reverter esse cenário.”

Enquanto isso, 97% das mulheres que participaram da enquete contaram ter medo de andar a pé à noite e 96% já deixaram de ir a algum lugar por temer o trajeto. Para Daniely, isso é inaceitável, pois “é o nosso direito de ir e vir que está em jogo”. Outro problema levantado pela enquete é o assédio no transporte público. Quase 90% responderam que já foram vítimas desse tipo de crime. “O assédio, na nossa sociedade, infelizmente, é considerado normal, o corpo da mulher é visto como uma coisa pública. Faz parte da cultura latina que o homem pode passar a mão na mulher, que ela está pedindo por isso. É um absurdo, mas é assim que ainda se pensa”, explica Daniely.

Para ela, é preciso haver mais fiscalização (inclusive com guardas mulheres) e punição, já que os chamados “vagões rosas”, exclusivos para o sexo feminino, são uma medida paliativa, não solução. “Eles não são a melhor alternativa, pois segregam”, diz a especialista. “Assédio é crime, tem que dar cadeia, porque, aí, sim, os homens vão sentir e evoluir.”

“O assédio, na nossa sociedade, infelizmente, é considerado normal, o corpo da mulher é visto como uma coisa pública. ”
Daniely Votto, consultora de políticas públicas com ênfase em mobilidade e gênero

Outra medida que ela propõe é uma mudança estrutural. “Algo mais imediato são políticas para alternância de horários de trabalho, para que o transporte não fique superlotado, o que dá mais chance para a mulher sofrer alguma violência.” Ainda na enquete, 4.672 mulheres responderam que costumam compartilhar a viagem quando usam um aplicativo de transporte, e 1.499 que disseram nem saber que dava para fazer isso. Em alguns aplicativos, como o da 99, essa ferramenta é disponibilizada para trazer mais segurança.

A empresa, que possui o Guia da Comunidade, um documento que promove respeito e diversidade aos passageiros e motoristas do app, além de fornecer dicas práticas e exemplos de como agir em diversas situações - com foco especial na segurança feminina e combate ao assédio, inclusive, firmou parceria com o projeto “Justiceiras”, liderado pela promotora de Justiça Gabriela Manssur, que oferece orientação jurídica e acolhimento para mulheres vítimas de violência.

“Independentemente de onde tenha ocorrido a violência, seja em casa, no trabalho ou em uma corrida por aplicativo, a mulher pode e deve solicitar apoio usando o formulário, que está na Central de Segurança do app da 99”, afirma Pamela Vaiano, diretora de Comunicação da 99. “Nós entendemos que é nosso papel apoiar iniciativas como o projeto ‘Justiceiras’, para acolher as vítimas e dar um basta neste ciclo de dor e agressões”.

Pensando no fim desse ciclo e em um futuro sem violência nem medo, a última pergunta da enquete da Tpm era “Qual é o seu sonho quando falamos em mobilidade urbana?”. Na maioria das cerca de 920 respostas, um desejo em comum: liberdade e segurança. “Parece que fomos educadas para ter medo, faz parte do nosso comportamento, e isso só vai mudar quando todos entenderem que, quando a cidade é melhor para as mulheres, ela é melhor para todos”, completa Daniely.

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