Hora do lámen

Em São Paulo, a maior colônia japonesa do mundo, duas descendentes à frente de novas casas falam sobre tradição e moda no mundo da sopa com macarrão

por Letícia González em

As primeiras lembranças que a chef Nancy Fukayama tem de uma tigela fumegante de lámen são da infância em Birigui, interior de São Paulo, quando a mãe fazia o prato para os cinco filhos e o marido, que gostava muito. “Era uma comida simples, saborosa e pouco elaborada. No dia a dia, levava por cima vegetais e, talvez, um ovo. A rodela de porco, que hoje é praxe, só mesmo nas ocasiões especiais”, lembra. Nancy é dona do Lamen-Açu, uma das novas casas dedicadas à sopa na capital paulista. Desde o inverno passado, cinco restaurantes com esse foco abriram as portas na cidade.

No Açu a proposta é seguir a linha slow food, sem temperos prontos e com a referência da cozinha caseira e saudável. Os caldos levam 12 horas para serem preparados. “A técnica aprendi na faculdade, mas o sabor vem de casa”, conta a chef, que também passou três anos em Tomé Açu, no Pará, e de lá trouxe de lá inspiração para o nome e para uma opção de lámen brasileiro, com tucupi e jambu. “É o nosso diferencial”, diz ela, que é casada com um engenheiro agrônomo nascido na cidade paraense, uma colônia nipônica no meio da Amazônia. O casal já era proprietário do restaurante vizinho à casa nova, na região do bairro Saúde, onde começou a mesclar as duas influências.

Perto dali, em outro reduto japonês de São Paulo, no bairro Paraíso, a consultora financeira Simone Xirata aposta no mesmo nicho, mas com bagagem e proposta bem diferentes. “Meus avós vieram para o Brasil pouco antes da Segunda Guerra Mundial, então não pegaram a época do lámen”, conta ela. A receita se tornou popular no arquipélago somente após o conflito, com a importação barata de trigo dos Estados Unidos e o incentivo do governo ao desenvolvimento do macarrão. Sem a tradição em casa, Simone cresceu comendo outros pratos típicos orientais e, ao ver o lámen como opção em restaurantes, fazia pouco caso. “Me parecia uma sopa qualquer, sem graça. Nunca tinha provado até 2011, quando estava viajando pelo Japão”, diz. Ela lembra direitinho do momento em que provou o primeiro, um tonkotsu, feito com caldo de porco. “Na hora pensei ‘nossa senhora, que delícia!” A viagem terminou com muitas outras tigelas e a ideia de trazer aqueles aromas para o Brasil. “A preparação é bem rigorosa e complexa. Só ela garante a alma do caldo.”

Em 2014, ela e os sócios fecharam parceria com o chef Takeshi Koitani, dono de uma escola de lámen e de uma pequena rede de restaurantes no Japão e, em abril deste ano, abriram o Jojo Lamen, estrategicamente localizado numa rua com muitos estrangeiros. “Focamos nos expatriados, que se concentram num quadrilátero de ruas aqui à volta, para ter certeza de que haveria público”, afirma. Agora, com o sucesso consolidado, o plano é abrir mais casas. A onda que vai lotá-las, acredita Simone, é influenciada pela febre que tomou Nova York no últimos anos, onde há mais de duzentas casas. “As pessoas vem aqui e comentam que foram ao Momofuku [do chef David Chang, principal expoente da moda nova-iorquina]. A cidade ainda tem muito espaço. Quanto mais concorrência, melhor.” Não parece uma visão equivocada. As filas do Jojo e dos outros estabelecimentos não param de crescer. E a nossa fome também.

Vai lá:

JOJO RAMEN

O chef Takeshi Koitani trouxe máquina de macarrão e técnica de seus restaurantes em Tóquio para o estabelecimento no Paraíso. - Crédito: Reprodução / Instagram

De segunda a sábado, das 18h30 às 22h. Rua Dr. Rafael de Barros, 262, Paraíso, (11) 3262-1654.
jojoramen.com.br

LAMEN-AÇU

Com cardápio tradicional e clientela do bairro, tem uma opção amazônica com jambu e tucupi criada pela chef Nancy Fukayama. - Crédito: Shio Lamen

De terça a domingo das 11h às 14h30 e das 18h às 21h30h. Rua Guaraú, 120, Mirandópolis, (11) 5589-9124
lamenacu.com

TAN-TAN NOODLE BAR

De inspiração nova-iorquina, tem temperos mais adocicados, drinks e muita badalção na fila. - Crédito: Reprodução / Instagram

Terça a quinta e domingo, das 19h às 23h30, sexta e sábado das 19h às 0h30. Rua Fradique Coutinho, 153, Pinheiros, (11) 2373-3587
tantannb.com.br

MOMO LAMEN

Com três andares e três estações de preparo, é o maior da cidade, capaz de atender bem até o público de fim de semana da Liberdade. - Crédito: Reprodução / Instagram

Todos os dias, das 11h às 15h e das 18h às 22h, Rua dos Estudantes, 34, Liberdade, (11) 3207-5626.
momolamen.com.br

HIRÁ RÁMEN IZAKAYA

Mistura lámen com bar de petiscos e bebidas (por isso o “izakaya” no nome) e serve também pratos de outros países da Ásia. - Crédito: Reprodução / Facebook

Domingo a quarta, das 19h às 23h, quinta até as 23h30, sexta e sábado até a meia-noite. Almoço das 12h às 15h durante a semana e das 12h30 às 16h no fim de semana.
Rua Fradique Coutinho, 1240, Pinheiros, (11) 3031-3025.
facebook.com/hiraramenizakaya

Créditos

Imagem principal: Shio Lamen

Arquivado em: Tpm / Alimentação / São paulo