A conta?
Não se iluda. A vida aqui é tão cara que o garçom (ou grande parte deles) quer mais é que você engula o que tiver na sua frente e libere a mesa pro próximo faminto [Prontos? Ainda não???]. Claro, há exceções. Mas a maioria deles não é treinada. São estudantes, atores, escritores. Daqueles que retiram o seu prato sem os demais da mesa terem terminado. E se irritam quando a escolha é apenas uma salada ou um copo d’água, único item grátis no país. [Não querem entrada? Tem certeza?]. Isso reduz drasticamente a gorjeta, de 15% sobre o pedido [Pimenta? Queijo ralado?]. Então, a pressa deles em te tirar da mesa é tanta, que os caras te interrompem a cada garfada – ou sílaba [Mais uma Diet Coke?].
Há também os garçons brasileiros, espalhados por todos os tipos de restaurantes [Sou mineiro, e você?]. Muitos deles carentes, longe de casa, aquela coisa [Sobremesa?]. Quando escutam português trocam uma prosa gostosa – mas vez ou outra ficam íntimos, interrompendo aquele seu jantar à luz de velas [Vocês são namorados, é? Que fofos!]. Mas não tem nada que exaspere mais [Café, chá, cappuccino?] do que aquela conta sobre mesa sem você pedir. O garçom joga a dolorosa em cima da mesa, sorri e reza para você dar o pirandelobóu [Não precisa pagar agora, fique à vontade]. E aaai de você se não caprichar na gorjeta. Ele? Já está longe, em outra, atendendo a próxima vítima. Levante e desapareça. Já.