40 e poucos
Para nós, garotas roqueiras, essa é só a idade que a gente tem
Ser uma moça de 40 e poucos anos é um problema. Só que para os outros. Os outros são vocês, meninas de 20, 30. E vocês, rapazes de qualquer idade do nosso Brasil. Repito. O problema é de vocês, que vez ou outra nos falam: “Nossa, mas você não parece ter 40 anos”, com certo ar de choque. Deve ser um elogio, certo? Outra frase que ouvimos muito: “Nossa, como você pode ter 40 anos?”. É simples, os anos vão passando, você não morre e um dia tem 40 anos. O que não é nada ruim. Inclusive porque quem tem 40 anos ainda é meio jovem. E vocês, meninas de 20, 30, ainda não perceberam isso porque são loucas!
Outro dia me vi em uma roda de garotas de 30 e elas só falavam sobre bigode chinês. “Tenho medo de ter bigode chinês, será que eu tenho bigode chinês?” Eu e minhas amigas de 40 nunca falamos sobre isso. Sério. Nunca mesmo. A gente fala sobre... sei lá, o disco novo que nosso amigo lançou, política, roupa.
Repito. Não é um problema para a gente. É só a idade que a gente tem, ponto. Se é um problema para os homens? Ah, claro. Quando você faz 40 anos acontece um fenômeno estranho. Alguns caras da sua idade (ou mais velhos) passam a te achar velha. Escuta, baby, você tem a mesma idade que eu.
Uma vez eu e uma amiga contamos isso a um policial italiano que conhecemos em um bar gótico em Berlim (coisas surpreendentes continuam acontecendo depois que você fez 40 anos, oh, yeah!). Resposta do sujeito: “Mas isso é absurdo, como posso achar que vocês são velhas se tenho a mesma idade que vocês?”. Minha amiga gritava: “Está vendo? Ele é italiano, ele é policial, e ele entende. Já os nossos amigos do Brasil, gênios, artistas, não entendem”.
Não são todos os homens que são assim, não. Mas muitos. Muitos do Brasil. Porque o Brasil é um país muito, muito, muito machista. Em outros lugares é diferente, sim.
E o que nós, garotas roqueiras de 40 e poucos anos, fazemos quando um cara da nossa idade nos acha velha e só namora garotas de 20 (nada contra vocês, ei!)? Nós rimos. Rimos muito. Rimos. E, se vocês são nossos amigos, rimos na cara. Se não, fazemos piada pelas costas.
Melhor cantada que já recebi na vida, de um médico alemão: “Não acredito que você tem 39 anos, mas, se você tiver, vou te achar mais interessante ainda”. Aprendam com eles, compatriotas da minha geração. E saibam que as mães de vocês erraram. Quer dizer, não aprendam. Porque uma coisa que a gente já sabe aos 40 anos é que não vale a pena perder tempo educando homem (que não for nosso filho). Ou vocês se ligam. Ou não. Problema de vocês. Com a gente está tudo bem. Juro.
*Nina Lemos, 41 anos, é repórter especial da Tpm, Carioca exilada em São Paulo, autora de cinco livros e ainda acredita que vai mudar o mundo.