Esquenta Casa Tpm: Karina Buhr

Cantora diz não se sentir livre, e que já deixou de fazer o que queria por freios sociais

por Natacha Cortêz em

Karina Buhr é uma inconformada, uma barulhenta, alguém que faz questão de não se encaixar em rótulo algum - foi capa da Tpm de abril e deixou a redação toda apaixonada por suas doses de coragem. Pra nossa sorte, ela sabe ser tudo isso no melhor dos sentidos e torna-se inspiração pra quem não está querendo dar satisfação a ninguém que não seja ela mesma.

Karina fechará a noite de sábado na Casa Tpm (o evento acontece em São Paulo nos dias 4 e 5 de agosto e terá debates, música, arte e gastronomia) cantando um repertório de músicas ligadas à mulher.

Quanto ao papel da mulher hoje, pra você: quais são as dores e alegrias de exercê-lo? O que acha que ainda falta?
As mesmas dores e mesmas delícias de sempre com mudanças de graus de intensidade. Mas, com certeza, temos mais delícias, através dos tempos. Só acho tudo muito devagar. Queria estar viva pra ver alguns tipos de mudanças que não vou ver. Acho que ainda falta muito pra uma igualdade real de convivência entre homens e mulheres. Isso é sempre confundido com outras coisas. O Brasil é um país muito machista. As mulheres brasileiras são, de uma maneira geral, muito machistas. Aqui, quando uma mulher vai questionar isso, ou botar várias coisas às claras, tem que se preparar pra uma violência enorme que virá de volta, principalmente de mulheres.

 

“Não se pode fingir que esses problemas não existem. É preciso procurar entendê-los, homens e mulheres, juntos. Afinal, é um problema de todos nós e os homens também sofrem com o machismo”


Conquistamos muitas coisas profissionalmente, nos relacionamentos, no poder de decisão e de expressão, mas você se sente livre mesmo?
Não me sinto livre de maneira nenhuma. Temos mais direitos legais, conquistamos sim muitas coisas e isso precisa ser comemorado e lembrado, mas a prisão dentro da mente não só dos homens, mas, talvez principalmente, na nossa, é nosso grande algoz. Percebo o tanto que me tolhi, que me entupi, que deixei de realizar o que queria, por freios sociais externos e internos, mesmo eu, que sempre me achei livre, que sempre achei que fazia tudo o que queria. Que nada! Tento sempre recuperar o tempo perdido e fazer isso da maneira menos amargurada possível, mas que perdi muito tempo, perdi sim. Uma "percussionista mulher", por exemplo, não precisava tocar tão bem assim...isso freia, isso desestimula. Num terreiro de candomblé mulher era (e ainda é) proibida de tocar...

 

"Não me sinto livre de maneira nenhuma. Temos mais direitos legais, conquistamos sim muitas coisas e isso precisa ser comemorado e lembrado, mas a prisão dentro da mente não só dos homens, mas, talvez principalmente, na nossa, é nosso grande algoz"


E no relacionamento homem e mulher, você percebe diferenças? 
Me agrada muito mais o tipo de relação que se tem hoje, mas ainda acho muito distante do ideal. A gente ainda vive sobre a pressão de bom comportamento e educação para as mulheres e virilidade e liberdade para os homens. Isso é forte, isso é grave, isso machuca e resigna.

Em relação à Casa Tpm, qual é sua expectativa?
Acho muito válido falar sobre isso e vibrei quando soube da ideia da Casa! Vai ser incrível! Vibro sempre com a revista Tpm, diga-se de passagem. As caras são postas à tapa e isso é precioso. Esse olhar crítico da revista sobre o que ela faz é importantíssimo. O projeto da Casa está totalmente nesse contexto de conversa, de pensar profundamente sobre essas questões todas. Falo isso, sem querer fazer média, é sincero mesmo. Leio a revista desde o primeiro número e acho uma publicação preciosa pra muitas mudanças nesse sentido. Não se pode fingir que esses problemas não existem. É preciso procurar entendê-los, homens e mulheres, juntos. Afinal, é um problema de todos nós e os homens também sofrem com o machismo. 

Ficou com gostinho de quero mais? Participe de todas as atrações da Casa Tpm, entre elas, um show com Karina Buhr. Inscreva-se no site: dias 4 e 5 de agosto, em São Paulo, entrada gratuita. 

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