Dinheiro também é assunto de mulher
Mulheres ainda ganham menos. E, em pleno 2019, poucas sabem investir ou acreditam que não são capazes. Por quê? Denise Damiani deu uma aula sobre o assunto na Casa Tpm
Em 2018, mulheres ganharam 20,5% menos que os homens, segundo o IBGE. O rendimento médio no ano passado foi o equivalente a 79,5% do que os homens ganharam no mesmo período, enquanto em 2017 a porcentagem foi de 78,3%. Embora os números mostrem uma leve melhora ao passar dos anos, a desigualdade de gênero continua presente quando o assunto é dinheiro.
"Se tem diferença de dinheiro para homem e para mulher? Tem, claro que tem. Equidade de gênero tem tudo a ver com as possibilidades de investir e fazer planejamentos financeiros", disse Denise Damiani na Casa Tpm deste ano, em uma aula de educação financeira oferecida pela Easynvest.
Formada em engenharia de sistemas digitais, com Executive MBAs da Harvard Business School e do International Institute for Management Development, na Suíça, a autora do livro "Ganhar, gastar, investir: o livro do dinheiro para mulheres" começou a aula em uma conversa sincera com plateia. Quem ali sabia investir? A minoria. Quem ali queria subir na carreira e conseguir guardar dinheiro? A maioria. Qual é, então, a grande dificuldade para que as mulheres possam se apoderar de seu próprio dinheiro e autonomia?
O primeiro passo de Denise foi levantar uma reflexão sobre como o dinheiro é ou era tratado na família de cada uma das mulheres ali presentes. Para ela, só nos modifica aquilo que vem de uma reflexão interna. "O dinheiro normalmente tem um significado na nossa vida. Ou ele significa poder, ou estabilidade, ou sofrimento, ou prudência, ou realização, ou obsessão. Como criar uma relação saudável com ele se temos crenças como a de que ele é sujo, por exemplo?", cutucou.
A partir dessa reflexão foi possível entender que só conseguimos modificar algumas crenças e sentimentos quando há uma conversa amorosa — de nós com nós mesmas, principalmente. "Se eu falar que vocês têm que guardar dinheiro, em um tom imperativo, eu serei ignorada. Mas se eu começar uma conversa amorosa que tenta buscar a origem de tantos gastos, a origem da insegurança ou da sensação de não merecimento, um estalo acontece e consigo modificar esse cenário", disse.
Crenças e encrencas
"Eu não sou capaz", "não vou dar conta", "não quero mais responsabilidade", "preciso cuidar dos meus filhos", "eu não admiro as pessoas que estão no topo", "já estou velha demais", "se eu estiver no poder, os homens não vão querer casar comigo ou vão me largar". Essa são algumas das respostas que Denise ouviu ao longo do processo de entrevistas que teve antes de escrever o livro.
"Sim, muitas mulheres acham que se tiverem mais poder financeiro serão largadas ou não encontrarão um companheiro. Acreditam?", indagou. Incrédula, a plateia parecia refletir sobre as tantas outras realidades que cercam as mulheres por aí. Mas o que fazer, portanto, para chegar à conclusão de que devemos ganhar mais do que gastamos e investir o que sobra?
Todo ser humano deve ser educado em alguns níveis, segundo Denise. O primeiro deles é o nível raiz. Coisas básicas para se dar bem na vida, como se comunicar bem, saber usar minimamente algumas tecnologias e mirar um crescimento pessoal. Não tem a ver, necessariamente, com faculdade ou estudos. O segundo nível foi chamado de tronco, que é quando aprendemos a gerar e a gerir. É uma consciência que pode nascer nas coisas da rotina, ou numa faculdade.
E o que o gênero tem a ver com isso? Nada, absolutamente. Portanto, cabe a cada uma de nós nos conscientizarmos sobre limites sociais e mentais que nos cercam. "Mais de 50% da força de trabalho é feminina, mas apenas 4% de nós chega a altos cargos ou salário. Ou seja, só 4% das mulheres têm algum poder. Devemos querer e poder, sim, subir na carreira. E quando conservamos esse pensamento, mandamos embora hábitos como gastar tudo o que sobra do salário. Façam essa reflexão", orientou Denise.
Ao final da aula, a escritora deixou claro que não acredita que o ganhar determina a riqueza. É preciso ter dedicação, aprender e conversar com as pessoas sobre dinheiro. E se disserem que isso não é assunto de mulher, busque fortalecer outras mulheres e criar verdadeiras redes de apoio e conscientização sobre o tema. Que tal crescermos juntas?
Créditos
Imagem principal: Zé Proença
Texto: Camila Eiroa