A carga mental tá pesada?
A atriz Juliana Alves, a médica e vencedora do BBB Thelminha, a executiva Rachel Maia e a jornalista Milly Lacombe refletem sobre carga mental, angústia que atinge a maioria das mulheres brasileiras
Calcular se o peixe que está na geladeira vai estragar, checar se o marido mandou parabéns para a mãe ou lembrar de comprar o presente do casamento que vai rolar daqui dois meses. Podem parecer tarefas simples, mas esses trabalhos invisíveis, indiretamente delegados às mulheres, além de consumir tempo e energia, nos deixam em um estado de atividade mental constante. E isso tem nome: carga mental. No primeiro dia da (em)Casa Tpm, a atriz Juliana Alves, a médica e vencedora do BBB Thelminha, a executiva Rachel Maia e a jornalista Milly Lacombe refletiram sobre essa angústia que atinge a maioria das mulheres brasileiras.
Já existe um grande debate sobre a necessidade de uma divisão mais justa das tarefas da casa, como lavar a louça e tirar o lixo. No entanto, a carga mental é uma camada mais abaixo e envolve tudo o que é pensado sobre uma casa e o dia a dia. "Eu fui criada para achar que a mulher era quem tinha que manter a casa funcionando. E não é assim, nós não nascemos com um chip que sabe fazer a lista do supermercado", brinca Milly Lacombe. A jornalista também reforça que não há um fim para a carga mental. O que deve haver é uma divisão desses pequenos afazeres, para que uma das pessoas da casa não fique sobrecarregada.
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Foi ao notar os efeitos colaterais da carga mental que a atriz Juliana Alves passou a pensar de forma crítica sobre essas situações que vivenciamos corriqueiramente. "Estava com muitos esquecimentos, uma sensação de estresse, uma sobrecarga." Ela aponta que, durante o isolamento, a perda do limite das horas de trabalho, as tarefas da casa e os cuidados com sua filha intensificaram ainda mais esses sentimentos. "Entender que essas atividades sobrecarregam mais a mulher do que o homem nos faz automaticamente criar situações de debate em casa que, em um primeiro momento, pode gerar conflito."
"O período de confinamento faz com que a gente se encontre ainda mais com os nossos monstros", diz Thelminha. A médica conta que um dos fatores que faziam com que ela tivesse uma grande carga mental era ser proativa demais. Antes de participar do Big Brother Brasil, ela trabalhava em média 60 horas por semana, indo de um hospital para o outro e tendo que conciliar parte das tarefas de casa. "Hoje, depois do reality e desse confinamento de mais de 6 meses, eu tenho tentado tirar um tempinho para ter um encontro comigo mesma, respeitar meu espaço."
CEO da Lacoste no Brasil e mãe independente, Rachel Maia também sentiu a carga mental aumentar durante o período da pandemia. "Antes, existia um vale entre o escritório e a minha casa. Com o confinamento, a gente começa a ser produtiva assim que sai da cama", explica. Ela conta que, além de buscar a ajuda de mentores e psicanalistas para lidar com tudo o que está acontecendo, tenta sempre lembrar dos lados positivos trazidos pelo momento. "Agora eu consigo conviver muito mais com os meus filhos. É uma oportunidade de saber que às vezes eu posso ser frágil até com os meus filhos."
"No início da pandemia, fiquei totalmente empenhada em criar um ambiente compensador e não me dei conta de quanto eu estava me sobrecarregando e me deixando de lado", diz Juliana Alves. Ela conta que sua filha foi um termômetro importante para que mudasse seu comportamento durante esse tempo. "Depois de perceber a irritabilidade e a carência dela, notei que também estava fazendo isso comigo. E aí comecei a criar métodos e diálogos para tirar essa ideia romântica da mulher que faz muita coisa." A atriz passou a dosar mais as situações, como responder as mensagens de trabalho enquanto sua filha estivesse dormindo e não se cobrar demais.
Levar o trabalho para a casa fez com que a filha de Rachel, de nove anos, entendesse melhor as obrigações da mãe. "Ela reclamava sempre que eu ficava muito fora. Hoje ela entende, ouve minhas reuniões e ainda se oferece para fazer as coisas", conta. Para a executiva, foi importante que sua filha percebesse que quando sai não está apenas brincando e, mesmo passando pouco tempo de seu dia com ela, é sempre de muita qualidade. "Ela me lembra de coisas que tenho que fazer em casa e está tudo bem eu contar com essa ajuda que vem de forma carinhosa", diz.
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"Nós mulheres somos criadas para ser adultas funcionais. O que estamos começando a ver é que nem todo homem é criado para ser um adulto funcional", diz Milly Lacombe. Além de reforçar que as atividades de casa são, sim, um trabalho, a jornalista também lembra que não há motivo para as mulheres terem orgulho de conseguir fazer várias coisas ao mesmo tempo: "Na verdade, muitos estudos dizem que ser multitarefa faz com que você não consiga performar da melhor forma em nenhuma delas."
Para Thelma, ter um hobby é uma boa solução para conseguir lidar com a rotina e ainda assim ter um tempo consigo mesma. "Eu sempre conciliava minha profissão com o fato de ser passista de escola de samba", diz. Juliana Alves também ressalta que existe uma diferença bem grande entre as mulheres optarem por fazer várias coisas e serem indiretamente obrigadas a arcar com tarefas. "A gente quer poder fazer muitas coisas, mas tem que estar no lugar do prazer, não do desgaste, da sobrecarga."
"Eu aprendi com a terapia a não me cobrar quando a casa não estiver funcionando, quando as coisas não estiverem todas como deveriam estar", diz Rachel. A executiva ressalta que é importante lembrar que não precisamos ser super mulheres: "Está tudo bem esquecer as coisas, não precisa ter toda perfeição e harmonia. Esse universo perfeito não existe."
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