Zen ar, zen chance
O Willis Itamaraty foi o primeiro automóvel brasileiro a oferecer ar-condicionado e som
Para a maioria das pessoas, carro é sinônimo de congestionamento e estresse. Mas pesquisas feitas por companhias de seguro em todo o mundo revelam outra realidade por trás do volante e dos vidros cada vez mais escurecidos por Insufilms. Os costumes mais frequentes no trânsito ainda são hábitos do dia a dia, como falar ao telefone, ler livros e fazer refeições. Para um grupo de entrevistados, no entanto, o automóvel é o lugar ideal para, quem diria, rezar, meditar e conversar com Deus. E, para tornar o carro uma “bolha”, capaz de nos isolar das energias externas, alguns confortos são fundamentais. Afinal, dirigir zen requer, no mínimo, um radinho e um ar-condicionado.
No Brasil, o primeiro automóvel a oferecer esse duo foi o Willys Itamaraty Executivo, limusine de 5,52 m que inaugurou por aqui o segmento de automóveis de luxo. Apresentado ao público no Salão do Automóvel de 1966, o pomposo modelo surpreendia pelo conforto e pelo acabamento, na contramão de algumas linhas espirituais que pregam o desapego às coisas materiais – só o painel, feito de madeira jacarandá maciça, pesava 20 kg.
“Foi o primeiro automóvel brasileiro com vidros elétricos, além de extravagâncias como um console traseiro com gravador e aparelho de barbear”, conta José Antonio Vignoli, executivo do mercado financeiro e historiador da marca Willys.
POBREZA ESPIRITUAL
Como se tratava de uma limusine, o requinte era limitado ao espaço traseiro, capaz de acomodar até cinco passageiros. Se ter um Itamaraty denotava riqueza material, por outro lado, demonstrava pobreza espiritual, já que o ar-condicionado só possuía saídas na parte traseira, deixando o coitado do chofer, separado por um espesso vidro, à mercê do inferno tropical.
Hoje as poucas unidades sobreviventes estão nas mãos de colecionadores ou em museus. E alguns dos atributos do Itamaraty estão disponíveis até mesmo nos carros populares.