Wikileaks Pornô

Site propaga perseguição de astros da indústria pornográfica

por Luiz Filipe Tavares em

Durante a última semana, a indústria de filmes adultos dos Estados Unidos, famosa por ser a mais profissional e "segura" ao redor do mundo, passou a ter de lidar com uma perseguição de níveis nunca antes imaginados. Tudo isso graças às publicações do site Porn Wikileaks, que esconde-se atrás dos mesmos princípios da Wikileaks original, mas usa suas "informações" para propagar mensagens de preconceito e de homofobia direcionada aos atores, atrizes, diretores e produtores do cinema pornô do país. 

Os ataques ganharam força real na última semana de março, quando mais de doze mil nomes reais de atores e atrizes adultos vazaram na web através do banco de dados da Adult Industry Medical Healthcare Foundation (AIM), organização particular que realiza mais de 90% do total nacional dos testes regulares de doenças sexualmente transmissíveis aos quais os atores tem de submeter-se a cada 28 dias. Com a publicação desses dados sigilosos, ficou fácil descobrir endereços, telefones e sites pessoais das pessoas ligadas à indústria do pornô americano. E isso está assustando especialmente as atrizes do país, que passaram a temer por sua segurança.

Como se não fosse o suficiente, o site ainda tornou-se uma espécie de Bastilha anti-homossexual, reunindo os mais baixos ataques aos atores de filmes voltados para o público gay, especialmente a aqueles que também atuam em cenas heterossexuais. Nos fórums de discussão do site, não é nem um pouco difícil encontrar depoimentos que acusam esses atores de espalharem o vírus HIV entre integrantes do mercado pornográfico, taxando os gays como os responsáveis por arruinar a saúde da indústria nos últimos anos. 

Claro que a perseguição já deixou o mundo virtual e chegou ao mundo real. O ator gay James Jamesson, por exemplo, foi obrigado a postar na internet uma cópia de seu mais recente exame de Aids, depois que o Porn Wikileaks acusou-o publicamente de ser portador do HIV e de espalhá-lo propositalmente pelos Estados Unidos. Monica Foster, bastante conhecida atriz de filmes adultos, teve fotos de sua casa postadas no site, junto com telefones e até com o endereço dos seus pais. Ao procurar o FBI, a atriz descobriu que nada poderia fazer contra o site, já que ele está hospedado em servidores da Holanda.

Preconceito disfarçado

Fontes ligadas à indústria, publicadas em uma matéria do Gawker durante o fim de semana, afirmam que o site seria afiliado ao ex-ator e diretor Donald Carlos Seoane, mais conhecido pelo nome artístico Donny Long. Depois de alguns anos na indústria, Seoane arrumou brigas com muitos produtores e estúdios dos EUA, acabando totalmente exilado da indústria pornô por seus ataques descabidos a homossexuais e à produção de pornografia voltada para o público gay. Procurado pelo mesmo Gawker, Donny Long negou estar à frente do Porn Wikileaks.

"Eu não faço parte da equipe do Porn Wikileaks", explicou o ex-ator. "Só estou ligado ao site pela conta de usuário que tenho lá. Tenho o apoio dos mantenedores do site porque desde sempre tenho falado sobre os gays arruinando a indústria do filme pornô nos últimos anos". Como se sua opinião se justificasse dessa forma, lá está Donny, ajudando a divulgar links dos perfís no Facebook de familiares de atores e atrizes pornô dos Estados Unidos.

Bradando em cada tópico sobre os perigos do HIV e associando a propagação da doença exclusivamente aos gays, os usuários do Porn Wikileaks ajudam esse estereótipo que demorou tanto tempo para ser derrubado a voltar à tona em meio à maior abertura de posicionamento favorável ao casamento gay na história dos EUA. O mais triste de tudo é ver que, no mesmo ano onde um integrante da família Bush e um da família Cheney finalmente falam abertamente em relação à esse assunto, um grupo de ignorantes quer reviver à força seu pensamento retrógrado. E o pior: dizendo que faz isso pelo bem maior das pessoas. Faça-me o favor...

(Via Gawker.com)
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