Ele já percorreu 150 mil
quilômetros em 76 países,
viu três Copas do Mundo, passou
por quatro guerras civis
e cinco furacões – e não
tem planos de parar

Por: juliana deodoro
fotos: arquivo pessoal

Zé do Pedal
atravessou o
mundo de bicicleta

Em novembro de 1981,
o jovem José Geraldo
de Souza Castro tinha um
sonho: ver uma Copa do Mundo.
Sem dinheiro, mas com muita
vontade, ele resolveu ir até
a Espanha de bicicleta para
a competição que aconteceria
dali a sete meses

Para isso, atravessou
a América do Sul até os
Estados Unidos, voou para
a Inglaterra e chegou na
concentração da seleção
brasileira minutos antes
dos jogadores. A viagem
lhe rendeu um apelido:
Zé do Pedal

Ele nem sabia, mas essa
jornada ia determinar seu
destino pelas próximas décadas.
O plano inicial de Zé era
morar na Europa por quatro
anos e aprender um idioma,
mas não foi isso que aconteceu

“Na hora em que terminou
a Copa, veio a pergunta:
o que eu faço? Olhei pra
trás e decidi trocar os
quatro anos na Europa
por uma volta ao mundo”

Depois de conhecer Zico
e companhia, ele seguiu
viagem. Na África, se deparou
com a miséria e com guerras
civis em diversos países.
Na Ásia, se hospedou em
um campo de refugiados 

“Eu não estava preparado
para aquilo. Eu tinha
conquistado um espaço
na imprensa e resolvi
retribuir fazendo
campanhas sociais em cada
uma das minhas viagens”

No Japão, por exemplo, ele
decidiu atravessar o país
em um velocípede para
conscientizar sobre a fome
das crianças na Etiópia

Vídeo: TEDx Talks/ Reprodução

A volta ao mundo terminou
no México, em 1986, durante
outra Copa do Mundo. Mas ele
decidiu continuar viajando –
não importava o meio de
locomoção, desde que fosse
sobre rodas ou pedais

Em 1987, Zé viajou do Chuí
a Brasília em um velocípede.
Em 1996, rodou a América
do Sul em uma motocicleta.
E, em 2002, assumiu o lado
ambientalista: viajou
pelo Rio São Francisco
de pedalinho

“Naquela época o rio já
estava bem assoreado,
mas conheci pessoas
maravilhosas. Me
perguntam o que ganho
com as viagens. Eu ganho
sorrisos que brotam da
alma, que valem mais que
qualquer coisa material”

Vídeo: Documentário Zé do Pedal - As Fronteiras
do Mundo/ Reprodução

Em 2006, um imprevisto:
por causa do furacão
Rita, a viagem que faria
de Nova York até o Rio
de Janeiro de pedalinho
foi interrompida. O barco
Quebrou no México.
“Juntei os cacos e voltei
pro Brasil”, conta

No ano seguinte, mais um
projeto de conscientização
ambiental: Zé construiu
uma embarcação com garrafas
pet e metais encontrados
no lixão. Com ela, fez
a travessia da Baía de
Guanabara, no Rio de Janeiro

No fundo, Zé do Pedal
nem gosta tanto de futebol,
mas os eventos esportivos
se tornaram um pretexto para
seus projetos. Entre 2008
e 2010, ele foi de Paris,
na França, até Johanesburgo,
na África do Sul, para
mais um mundial

Vídeo: Documentário Zé do Pedal - As Fronteiras
do Mundo/ Reprodução

Essa viagem, de cerca de
17 mil quilômetros, divulgou
uma campanha de combate ao
glaucoma e à catarata em países
pobres e virou até filme. “Meu
objetivo sempre é impactar para
as causas que defendo”, diz

A última viagem do Zé
do Pedal começou em 2019,
mas foi interrompida pela
pandemia. Ele pretendia ir
da África do Sul ao Egito
empurrando uma cadeira
de rodas, mas teve que
parar na Tanzânia

“Cheguei em uma cidade
e levei pedradas na rua.
As pessoas acharam que
o homem branco estava
levando a Covid-19 pra
lá. Interrompi a jornada,
mas assim que a pandemia
passar pretendo voltar”

Aos 64 anos, 40 deles
viajando sobre rodas,
Zé do Pedal não tem
planos de parar: “Eu
acredito que ainda tenho
muitos passos a dar
pela frente”. Avante!

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