Quando comprou a primeira câmera, Wendy Andrade percebeu que não queria trabalhar com outra coisa. “Eu sou alucinado em fotografia. Paro para fotografar qualquer coisa”, diz
Ainda na faculdade, o carioca largou o emprego em uma agência para tentar viver do seu olhar, que faz poesia com toda e qualquer coisa para onde mira
Foi também na PUC-RJ, onde se formou em comunicação, que nasceu o projeto Retrato Negro. O ano era 2015 e o debate sobre as questões raciais chegava com força à universidade
“Por mais que eu ainda não tivesse consciência racial, eu entendia como funcionava o mecanismo. E comecei a retratar algumas pessoas pretas à minha volta”, conta
Com a proposta de produzir 366 retratos de pessoas que você precisa conhecer – o ciclo de um ano bissexto –, o fotógrafo viu o Retrato Negro se tornar maior que ele mesmo
“Virou uma coisa gigante, potencializou muitas pessoas que nunca tinham sido fotografadas por ninguém, que disseram que sua autoestima mudou. Uma virou modelo, outra cantora...”
“Foi transformador para mim e para quem foi fotografado. Foi também onde eu me entendi como homem negro”
No Instagram, ele divide seu olhar sobre o mundo também em palavras, escritas na vertical como uma provocação para instigar a ansiedade e a curiosidade das pessoas
“As pessoas começaram a ter um cansaço literário bizarro e o texto tem um poder muito grande. O que escrevo é muito natural, mas está tendo um alcance absurdo e chegando em muitos lugares”
Ele fala sobre amor, arte e poesia, mas também sobre política e racismo, assunto que ganhou a pauta em 2020 e fez com que muita gente o procurasse para repercutir toda e qualquer coisa sobre o tema
“As pessoas me colocam num lugar muito pequeno. O racismo está aí desde que o mundo é mundo e fui eu que te abri os olhos? Eu sou mais que isso. Não falo só sobre isso”
Entre seus tantos projetos e trabalhos, Wendy criou o 366quarentena, um diário fotográfico para registrar o período atravessado pelo coronavírus
“Quero mostrar toda a mudança, como foi viver esse ano. E não existe melhor maneira de retratar isso do que através da fotografia”
Seja retratando as transformações do Rio de Janeiro na pandemia, os filhos de Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank para uma capa de revista ou a potência da beleza negra no Festival Afropunk, Wendy quer compartilhar
“A diversidade, a pluralidade, é o que transforma. Se você só convive com as mesmas pessoas, você não evolui”