Wendy Andrade:
olhar que empodera

Autor do projeto Retrato Negro
e 366quarentena, o fotógrafo
carioca usa a câmera e as
palavras para transformar

Por: Fernanda Nascimento
Imagens: Wendy Andrade/ divulgação

Quando comprou a primeira
câmera, Wendy Andrade
percebeu que não queria
trabalhar com outra coisa.
“Eu sou alucinado em
fotografia. Paro para
fotografar qualquer
coisa”, diz

Ainda na faculdade, o
carioca largou o emprego
em uma agência para tentar
viver do seu olhar, que faz
poesia com toda e qualquer
coisa para onde mira

Foi também na PUC-RJ, onde se
formou em comunicação, que nasceu
o projeto Retrato Negro. O ano
era 2015 e o debate sobre as
questões raciais chegava com
força à universidade

“Por mais que eu ainda
não tivesse consciência
racial, eu entendia como
funcionava o mecanismo.
E comecei a retratar
algumas pessoas pretas
à minha volta”, conta

Com a proposta de produzir
366 retratos de pessoas que
você precisa conhecer – o
ciclo de um ano bissexto –,
o fotógrafo viu o Retrato
Negro se tornar maior
que ele mesmo

“Virou uma coisa gigante,
potencializou muitas
pessoas que nunca tinham
sido fotografadas por
ninguém, que disseram
que sua autoestima mudou.
Uma virou modelo, outra
cantora...”

“Foi transformador para
mim e para quem foi
fotografado. Foi também
onde eu me entendi como
homem negro”

No Instagram, ele divide seu olhar
sobre o mundo também em palavras,
escritas na vertical como uma
provocação para instigar a ansiedade
e a curiosidade das pessoas

“As pessoas começaram a
ter um cansaço literário
bizarro e o texto tem um
poder muito grande. O que
escrevo é muito natural,
mas está tendo um alcance
absurdo e chegando em
muitos lugares”

Ele fala sobre amor, arte
e poesia, mas também sobre
política e racismo, assunto
que ganhou a pauta em 2020
e fez com que muita gente
o procurasse para repercutir
toda e qualquer coisa
sobre o tema

“As pessoas me colocam
num lugar muito pequeno.
O racismo está aí desde
que o mundo é mundo e fui
eu que te abri os olhos?
Eu sou mais que isso.
Não falo só sobre isso”

Entre seus tantos projetos
e trabalhos, Wendy criou
o 366quarentena, um diário
fotográfico para registrar
o período atravessado
pelo coronavírus

“Quero mostrar toda
a mudança, como foi viver
esse ano. E não existe
melhor maneira de retratar
isso do que através
da fotografia”

Seja retratando as
transformações do Rio
de Janeiro na pandemia,
os filhos de Bruno Gagliasso
e Giovanna Ewbank para
uma capa de revista ou a
potência da beleza negra
no Festival Afropunk,
Wendy quer compartilhar

“A diversidade, a
pluralidade, é o que
transforma. Se você só
convive com as mesmas
pessoas, você não evolui”

Conteúdo que transforma