Se vestir de um jeito diferente, consumir produtos gourmet e até contribuir para a gentrificação são algumas das características que os definem
Ninguém é hipster, mas existem muitos por aí, como exemplifica o antropólogo e sócio-fundador do Grupo Consumoteca Michel Alcoforado
“Hipster é categoria de acusação. Não tem ninguém dizendo ‘eu sou hipster’. Hoje mesmo, conversando com amigos, me disseram: ‘Você é hipster?’. Eu disse: ‘Eu?’”
O termo, que surgiu nos Estados Unidos na década de 40, ganhou força nos últimos anos, sempre associado a certos padrões estéticos e de consumo
“Os hipsters são aqueles que, ao contrário dos hippies, não negam o sistema. Eles estão diretamente envolvidos com isso, mas ele acha e quer provar para os outros que está fora. Ele está com um pé dentro e um pé fora, sempre”
A busca por produtos fora do padrão industrial também é associada aos hipsters, como explica Fabricio Muriana, do Instituto Feira Livre
“Ele quer tudo muito diferente em um supermercado, embora pareça um supermercado. A gente tem disponibilidade de produtos que só têm aqui. A gente traz a relação com os hipsters”
Para o antropólogo Maurício Alcântara, o hipster busca se diferenciar até no gosto musical
“Tem aquela frase típica que define o hipster, ‘before it was cool’. Eu gostava dessa banda antes de todo mundo conhecer”
RODRIGO MOTA, DONO DA BANCA CURVA, NO CENTRO DE SÃO PAULO, FOCA NO PÚBLICO QUE BUSCA CONSUMIR ARTE INDEPENDENTE. “É uma banca que vende publicações e artes impressas independentes. O objetivo é ter produtos acessíveis, de artistas que podem estar na margem, desconhecidos”
Além de serem associados à gourmetização, também se discute a participação no processo de gentrificação de algumas regiões em cidades como São Paulo
“Em muitas pesquisas, em muitos lugares, ser visto como hipster significa ser visto como gentrificador”
“Os hipsters chegam, vão dando tapa nas coisas, o lugar vai ficando jeitosinho. As imobiliárias e as construtoras chegam e os pobres vão sendo expulsos”
Os hipsters podem até mudar “a cara” de um bairro, mas Maurício pondera que, no Brasil, a gentrificação está mais vinculada às ações do governo
“O Estado, a prefeitura, planos diretores, projetos de intervenção urbana, são muito importantes para que uma região como São Paulo mude drasticamente”
Sendo hipster ou não, dá para tirar algumas reflexões sobre esse movimento
“Eu acho que têm vários aprendizados que os hipsters entregam para a sociedade. Relações de trabalho mais fluidas, a coisa do nativo digital, a não-obrigação de ter que ter um trabalho que você fica das 8h às 17h. O hipster dá essa possibilidade de reinventar tudo isso”