Coletivo de artistas indígenas
da etnia Huni Kuin faz da arte
um meio para comprar mata virgem
por: Douglas vieira
fotos: Barbara veiga/acervo trip
Vendo tela,
compro terra
Ibã Sales é cacique
e xamã da Chico Curumim,
uma das 34 aldeias
pertencentes ao povo
Huni Kuin no oeste do Acre,
divisa do Brasil com o Peru
Professor de antropologia na
Universidade Estadual do Rio
de Janeiro, educador e artista
plástico, ele é uma das
lideranças mais respeitadas
dos Huni Kuin, etnia também
conhecida como Kaxinawá
Em 2013, Ibã fundou o Movimento
de Artistas Huni Kuin, o Mahku,
um coletivo que reúne 12 artistas plásticos da etnia
O coletivo tem um plano
ambicioso: comprar mata
virgem e protegê-la do
desmatamento usando,
para isso, o dinheiro
obtido com a venda
das obras de arte
Em 2014, venderam pela
primeira vez uma obra
– uma tela de 5 metros,
por R$ 40 mil. O dinheiro
foi investido na compra
dos primeiros 50 hectares
“Vendo tela e compro
terra”, resume Ibã,
que tem a intenção
de proteger a cultura
e a floresta
As obras do Mahku são
criadas para retratar
de forma pictográfica
a história do povo,
um idioma gráfico tal
qual os hieróglifos
do Egito antigo
As artes também são uma forma
de ilustrar a “miração”, nome dado
por eles às visões decorrentes
da ingestão de ayahuasca
“A miração mostra caminhos
que a gente precisa tomar
e é um processo de cura,
de limpeza. A gente vê
as coisas que precisa
ver”, conta Ibã
“Quando comecei o Mahku,
tive uma miração e me vi
em cima de uma árvore bem
alta. Lá embaixo, estavam
os bichos, cobras e o gato
[onça], de boca aberta”
“Se eu caísse, iria
direto para a boca deles.
Eu entendi que aqueles
eram os políticos.
Eu não sou político.
Minha política é o Mahku”