No projeto Vegano Periférico, os gêmeos Leonardo e Eduardo Santos tiram a roupagem elitista do movimento e o aproximam da periferia
Por: dandara fonseca imagens: arquivo pessoal
Veganismo na quebrada
Quando decidiu parar de consumir produtos derivados de animais, em 2017, o paulista Eduardo Santos, da periferia de Campinas, não conseguia se enxergar dentro do veganismo
“Além de me sentir excluído quando frequentava espaços veganos, eu pagava uma fortuna pelo mínimo de comida”, conta. “Na internet também, era uma militância completamente diferente do meu mundo”
Com o irmão gêmeo, Leonardo, também vegano, ele resolveu questionar a elitização do movimento e seu distanciamento da quebrada. E assim surgiu a página Vegano Periférico
“Nós pensamos: A gente não quer abandonar a causa animal porque ela é elitista. Mas vamos fazer do nosso jeito, compreendendo toda a desigualdade presente na sociedade”
Eduardo e Leonardo se baseiam no veganismo popular, corrente que compreende a importância da luta pelo fim da exploração animal, mas também se preocupa com a exploração humana
“Com os nossos pratos, a gente mostra que dá para ser vegano com pouco. Além disso, queremos tirar o movimento desse campo do estilo de vida e trazer para o político”, explica Leonardo
Os gêmeos acreditam que, para falar sobre veganismo no Brasil, é preciso entender que existem mais de 116 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar e 20 milhões passando fome
“Muitos veganos que falam sobre o assunto nas redes acabam fazendo acusações e dizendo que qualquer pessoa é cruel se ela não quer parar de comer carne”, afirma Leonardo
Para eles, é preciso entender que a população periférica ainda luta por outras questões essenciais para sua sobrevivência, e que existe todo um contexto cultural em torno do tema
“O marketing criou a ideia de que o consumo de carne é ascensão social. Nós entendemos que se a gente chegar impondo alguma coisa, vamos estar ignorando toda uma vivência dessa pessoa”, explica Eduardo
Com uma linguagem acessível e muito diálogo, eles conseguem fazer com que pessoas da periferia – principalmente os mais jovens – deixem o preconceito de lado e enxerguem o veganismo com outros olhos
“O exemplo é muito mais importante do que apenas carregar um discurso. As pessoas verem que nós conseguimos viver sendo pobres e veganos é muito potente”, diz Eduardo
Para os gêmeos, o veganismo na quebrada também é uma questão de sobrevivência. “Existe um nutricídio na periferia. As pessoas estão se alimentando mal, nós estamos morrendo pela boca”
“A gente faz o link do veganismo com a alimentação saudável, com a agricultura familiar, não só porque é o que a gente acredita, mas porque é uma necessidade”, explica Leonardo
Apesar dos avanços conquistados, os irmãos entendem que há um longo caminho pela frente. “A maioria da quebrada ainda não sabe o que é o veganismo e qual a sua importância”
“um famoso seguir a gente é legal. Mas é quando a gente vê alguém da periferia ou do sertão nos seguindo que o nosso trabalho faz sentido”
“Nossa ambição é ver o povo falando sobre o veganismo. Aí acontece a transformação”