Por: Dandara Fonseca
Fotos: Arquivo pessoal Thelminha, Luciana Barreto
e outros profissionais negros
compartilham suas experiências
no ambiente acadêmico e contam
como é ocupar este espaço
ainda tão desigual
ser negro na
universidade
é foda
A universidade é muitas
vezes sinônimo de solidão
para pessoas negras. Entrar
em uma sala e não se ver
representado nos colegas é
comum na vida de quem acessa
este espaço ainda tão branco
“Das cem pessoas que
formavam minha turma,
eu era a única negra.
Dos 600 alunos da
faculdade, os negros
não chegavam a dez”
conta Thelma Assis,
que estudou medicina
na PUC-SP
A vencedora do BBB nota o
reflexo dessa desigualdade
no mercado de trabalho.
"Das equipes que trabalhei,
eu era praticamente a única
anestesista negra. Foram
poucos colegas, de contar
nos dedos"
Luciana Barreto, jornalista da
CNN, percebeu nos corredores
da PUC-RJ, onde estudou em
1997, a luta que tinha pela
frente como mulher negra.
"Nunca tinha tido que lidar
com tantas diferenças"
“No início, foi
muito difícil porque
eu tive um choque
racial e social muito
grande.Era uma pessoa
periférica, pobre, em
uma faculdade de elite
e que não tinha negros”
“Foi enfrentando as diferenças que fui construindo a minha própria identidade. Isso faz da minha militância muito agregadora, uma tentativa eterna de união por uma causa”
Mesmo tendo frequentado ambientes
majoritariamente brancos desde
pequeno, foi quando entrou no
Mackenzie para cursar jornalismo
que Alberto Pereira Jr. se
questionou sobre as questões raciais
“Estar na classe média, em um lugar que tem mais pessoas brancas, é uma vida de neutralizações", diz ele, que na época naturalizava muitos comportamentos inadequados dos colegas”
“Hoje vejo como não
olhei para várias
questões, como não me
sentir desejado enquanto
homem gay, não sentir
possível ser amado pelo
meu entorno, porque ele
não era igual a mim”
O jornalista Pedro Borges
sentiu uma enorme solidão
quando entrou no curso de
comunicação social na Unesp
Campus Bauru, em 2011, onde
não existia nenhum programa
de inclusão
“Muitas coisas eu não
colocava para fora
porque sabia que meus
colegas brancos não
iriam entender. Além
disso, as piadas e os
comentários racistas
eram uma normalidade
naquele momento”
“Para a branquitude,
se formar em uma
universidade é um ciclo
natural da vida. Para as
famílias negras, é uma
novidade", diz Pedro,
que participou da
criação do coletivo
negro da Unesp
Quando decidiu fazer arquitetura e urbanismo,
Fábio Rocha Ferreira sabia
que o curso era elitista,
mas conseguiu entrar no
Mackenzie em 2009 com uma
bolsa de estudos
“Eu não participei do
trote porque tinha receio
de ser alvo de zombaria,
em festas ficava com medo
de perder o controle.
Privações que alguém
branco nunca pensaria, no
meu caso, eram constantes”
Sophia de Mattos, jornalista
formada pela Cásper Líbero,
sentia que seus colegas de
classe estavam sempre querendo
comprovar se ela merecia
estar ali, o que afetou
sua autoestima
“A minha experiência
mudou totalmente depois
que comecei a fazer
parte do coletivo negro
da Cásper, o Africásper.
Ali me reconheci. É a mesma
briga, o mesmo olhar,
o mesmo histórico", diz
A luta para que o ambiente acadêmico
seja um espaço de igualdade racial
é de todos. Olhe ao redor, veja
quantas pessoas negras estão na sua
universidade. Lute por política de
ações afirmativas e esteja pronto
para ouvir e acolher
Conteúdo que transforma
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