Enraizados na cultura
brasileira, a espiritualidade
e o sincretismo ganham destaque
nas letras do rap nacional, em
busca de autoconhecimento na
missão de transformar o mundo

Por: Marcos Candido
Foto: Luiz Maximiano/ Trip

Religião e
espiritualidade
no hip-hop

“Tudo nesse mundo é
emprestado, não faz
sentido algum então ficar
apegado, agregado ao que
não te leva mais além,
não te deixa sossegado”

Imagens: Trip Tv
Áudio: BNegão/ reprodução

Esse trecho não saiu
de nenhum livro sobre
o desapego e o carma.
É uma letra de rap de
BNegão, que canta os versos
em “Prioridades”, do
disco “Enxugando Gelo”

Crédito: divulgação

No início, causava
estranheza a ideia de rimar
sobre questões sociais e políticas pregando a mudança
do mundo a partir de uma
mudança interior. Hoje, o
próprio BNegão nota isso no
trabalho de outros artistas

Crédito: Luiz Maximiano/ Trip

“Vejo muito claro no
Síntese, com letras muito
profundas. O Criolo é um
cara muito espiritualizado.
O Rodrigo Brandão coloca
bastante coisa espiritual
nas letras. O Nissin
Oriente... Cara, tem gente”

Crédito: André Ligeiro/ Trip

Entre os artistas da nova
geração, Rincon Sapiência
é um que reflete esse
movimento. “Pra passar
essa energia às pessoas,
transbordando nossas
mensagens, temos que
estar com o espírito
bem cuidado”, diz

Crédito: Luiz Maximiano/ Trip

Influenciado pelo Hare Krishna,
ele faz uma "autobênção" antes
de cada show, movimentando os
braços, passando a mão sobre
o rosto e mentalizando um
estado de paz pessoal até
a mente se tornar límpida

Crédito: Luiz Maximiano/ Trip

Pelo caminho das religiões
de matriz africana, a
cantora Tássia Reis sente
uma conexão especial no
palco. “Existe uma energia,
uma troca real”, diz

Crédito: Luiz Maximiano/ Trip

“Não bebo em show
para não desperdiçar
a experiência real do
que está acontecendo.
Diria que dá um arrepio
pelo corpo”

Crédito: Luiz Maximiano/ Trip

O MC Rodrigo Brandão
experimenta sensações
semelhantes. Começa no
camarim, com seus braços
formigando, até alcançar
um estado intenso de
euforia no meio do show.
“Me sinto em festa”, conta

Crédito: divulgação

A ligação com religiões de
matriz africana, o candomblé
e a umbanda, é mais clássica
na música brasileira, mas no
rap elas dividem espaço com o
cristianismo ou com vertentes
de filosofias orientais

Crédito: Luiz Maximiano/ Trip

A antropóloga Regina Novaes,
que estuda o elo entre
espírito e rap, observa
que uma característica dessa
ligação é o sincretismo.
A busca pela transformação
social se sobrepõe à adesão
a uma religião específica

Crédito: Luiz Maximiano/ Trip

Para o rapper Emicida, a
sabedoria do autoconhecimento
serve para resolver “questões
terrenas”, em uma batalha
permanente contra qualquer
tipo de opressão praticada
por aqui mesmo

Crédito: Luiz Maximiano/ Trip

“Nossa única palavra
é a voz. E nós queremos,
acima de tudo, conquistar
liberdade e espalhar
conhecimento. O hip-hop
é um conhecimento mais
fluido sobre a vida”, diz

Crédito: Luiz Maximiano/ Trip

Regina também observa que
esse sincretismo existe
desde o surgimento do hip-hop
nacional e, em um primeiro
momento, está ligado aos
credos em que os rappers
foram criados e educados

Crédito: Luiz Maximiano/ Trip

Em 1996, o Racionais MC’s lançou
“Sobrevivendo no Inferno”, disco
ilustrado com uma cruz e versículos
bíblicos e com músicas com passagens
cristãs mescladas a versos sobre
violência policial e racismo

Crédito: reprodução

“Todos estávamos em
busca de respostas, cada
qual com os ensinamentos
de sua espiritualidade”,
relembra Edi Rock,
integrante do grupo

Crédito: Klaus Mitteldorf/ arquivo pessoal

Regina afirma que “o hip-
hop, como manifestação
cultural, reflete o momento
no qual vivemos em relação
à espiritualidade geral”

Crédito: Luiz Maximiano/ Trip

BNegão concorda:
“O momento do mundo
pede isso. Hoje em dia,
a galera está mais ligada
em estar fora dos dogmas
de um movimento, o que
pode e o que não pode”

Crédito: Luiz Maximiano/ Trip

“Não tem mais essa.
Os dogmas caíram, o mundo
está aí em uma urgência.
A galera está com a
cabeça mais livre. Você
tem que fazer o que o
seu espírito manda”

Crédito: Luiz Maximiano/ Trip

Conteúdo que transforma

Crédito: Luiz Maximiano/ Trip
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