Em vez de querer suas ideias
multiplicadas como verdades,
o autor de Sapiens nos ajuda
a enxergar as perguntas que
devem ser feitas e nos incentiva
a ir atrás das respostas

Por: Julia Furrer
Fotos: divulgação

Yuval Noah Harari:
Não sou guru

Yuval Noah Harari era
apenas um bem conceituado,
mas desconhecido professor
de história da Universidade
Hebraica de Jerusalém, que
passava seu tempo escrevendo
artigos acadêmicos sobre
as Cruzadas

Tudo mudou em 2011, quando
ele se propôs um ambicioso
desafio: resumir 70 mil
anos da história da
humanidade em 300 páginas
e responder de onde viemos
e o que nos trouxe até aqui

Foto: Eugene Zhyvchik/ Unsplash

O resultado dessa sua cruzada
pessoal, “Sapiens – Uma breve
história da humanidade”, foi
traduzido para 45 idiomas e
tornou-se um dos livros mais
vendidos do mundo

Imagem: reprodução

Harari ficou famoso,
escreveu outros dois livros
igualmente bem-sucedidos,
e se tornou uma espécie
de guru, cultuado por
nomes como Barack Obama
e Mark Zuckerberg

Como todo sábio, não quer
ter a responsabilidade de
entregar respostas, mas usa
sua capacidade de analisar
o mundo para propor algumas
das perguntas que precisam
ser feitas

Ilustração: Fellipe Gonzalez/ Trip

O que fazer em relação às
mudanças climáticas ou à epidemia
de fake news? Como lidar com as
transformações que as máquinas
vão impor ao mercado de trabalho?
O que devemos ensinar aos
nossos filhos?

Ilustração: Fellipe Gonzalez/ Trip

“Não quero que
simplesmente acreditem
no que escrevi. Tenho
esperança que os leitores
se concentrem nas
perguntas certas, pensem
por si mesmos e cheguem
a respostas diferentes
das minhas”, afirma

O medo do desconhecido,
explica Harari, faz com
que as pessoas aceitem
certas respostas como
verdades absolutas, sem
questionar, só para
sentir algum conforto.
“Isso é extremamente
perigoso”, diz

“Temos que construir
sociedades e sistemas
políticos com espaço
para o desconhecido,
para o erro. Essa é
uma das grandes
vantagens da democracia
para a ditadura”

Foto: Eugene Zhyvchik/ Unsplash

“A tendência é que um
ditador nunca admita que
errou. Se não consegue
solucionar um problema,
coloca a culpa em fatores
externos e exige mais poder
para contornar a situação”

Ele acredita que os regimes
de direita têm em comum
o fato de ignorarem os
problemas reais do século
21 e apostarem no discurso
de que houve uma era de
ouro no passado e que
podemos recuperá-la

“As pessoas estão
perdendo a fé na história
da democracia liberal
e o vácuo é preenchido
principalmente por
fantasias nostálgicas”,
afirma. “O problema é
que não dá para rebobinar
a história”

Foto: Noom Peerapong/ Unsplash

Mas nem tudo está apontando
para a direção errada. Ainda
que continuem surgindo regimes
autoritários, Harari lembra que
a democracia está mais disseminada
pelo mundo do que nunca

Foto: Mike Von/ Unsplash

“Houve uma melhora imensa
de quarenta anos atrás
pra cá”, diz. “Precisamos
manter uma perspectiva
mais ampla para não
ficarmos perturbados”

“Mas também não devemos
achar que as leis da
história vão cuidar de
tudo, que a democracia
e os direitos humanos vão
continuar se disseminando
sem que a gente precise
fazer nada”

“Temos que lutar por
essas coisas. E, pra
isso, temos que ser
realistas. Entender que
nem tudo está perdido,
mas que as coisas não
vão acontecer sozinhas,
depende de nós”

Conteúdo que transforma

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