Por que estamos transando cada
vez menos? A psicóloga e sexóloga
Ana Canosa aponta os caminhos
para entender essa tendência

Por: Ana Canosa

Melhor organizar
direitinho

Falar de sexo todo mundo
fala, mas fazer tem ficado
cada vez mais difícil.
Se seguirmos no ritmo de
queda das últimas décadas,
em 2030 ninguém vai transar

Um estudo britânico avaliou que,
em 1990, os casais faziam sexo,
em média, cinco vezes por mês.
Em 2000, o número passou a quatro
vezes por mês e, em 2010, a três
vezes por mês

Vários autores defendem que
o excesso de pornografia e
da erotização resultam em
uma habituação do estímulo
sexual. Ou seja: vemos tanto,
mas tanto, que ficamos um
pouco insensíveis

No meu consultório,
noto que alguns casais
trocam o contato íntimo
pela masturbação porque
não entendem que o desejo
espontâneo diminui ao
final do apaixonamento

É preciso, portanto, se mostrar
interessado em transar. Para piorar,
eles têm medo de tocar nesse assunto,
tornando o sexo um tabu para o casal

Também tenho observado
que as pessoas carecem de
intimidade, que é o que nos
faz relaxar e nos conecta
com o outro

As pesquisas que investigam
a diminuição de sexo sugerem
que quem está casado – ainda
que enfrente a queda do
desejo sexual – ainda transa
mais e melhor do que quem
está solteiro

Cruze esse dado com os de
sexo casual, uma experiência
que tende a não ser tão
prazerosa – só 40% das
mulheres atingem o orgasmo
nessas ocasiões –, e está
feito o diagnóstico

Entre os cinco temas
mais acessados no site de
pornografia Pornhub em 2018
aparecem “MILF” (mom I would
like to fuck) – vídeos com
mães entre 39 e 50 anos –,
“madrastas” e “mães”

Antes que a gente pense
que os homens devem estar
procurando a mãe em suas
relações, eu diria (lembrando
que não só os homens acessam
pornografia) que nós,
enquanto sociedade,
estamos buscando mães

Freud estaria revirando
no caixão com a história
de Édipo: seguimos vinculados
à experiência infantil. E faz
sentido, já que as pessoas
não namoram tanto quanto
antes e, assim, não treinam
relacionarem-­se

Nunca fomos tão solitários e com
tanta gente ao redor, ao menos nas
redes sociais. Parece que nosso
desejo está no que a figura da
maternagem oferece ao outro: conexão,
compaixão, empatia e acolhimento

Dissociamos sexo de afeto.
Também acho, posso fazer
sexo com ou sem amor. Mas
o que esses dados do Pornhub
apontam é que, no fundo,
estamos querendo conexão,
inclusive quando buscamos
sexo explícito

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