O artista visual Guilherme
Kid começou a pintar depois
de conhecer uma igreja cheia de
skatistas e grafiteiros em Realengo
e hoje retrata o cotidiano
das periferias cariocas
Por: joão de mari
PERIFERIA É
PROTAGONISTA
Os camelôs no trem, as
crianças soltando pipa ou
jogando bola, o catador de
sucata. É essa a realidade
do Rio de Janeiro que
Guilherme Kid mostra –
aquela que foge do eixo
Centro-Zona Sul e que o
acompanha desde pequeno
“É de suma importância
falar da vida vista pelo
outro lado do túnel
Rebouças, olhando pra
Zona Norte, Oeste,
Baixada Fluminense.
Quero colocar meu
povo como protagonista
da cidade”, conta
Cria de Realengo, no subúrbio
carioca, Kid gostava de desenhar
quando criança, mas a arte só
voltou para sua vida aos 18
anos, durante um culto da igreja,
quando um amigo grafiteiro o
chamou para pintar uma parede
próxima à sua casa — e ele foi
Como tinha um problema
de coordenação motora e
não conseguia usar o spray,
a carreira como grafiteiro
não decolou. Mas dois anos
depois, em 2012, ele se
adaptou ao estilo que
se tornou um de seus
favoritos: o pincel
Por influência do também
artista e amigo Tainan Cabral,
Kid começou a usar pincel e
látex para construir personagens,
sempre desenhados em preto
e branco. Era o início de
seu rolê como artista urbano
“A arte é uma forma de
libertação, me salvou
e salvou muitas outras
pessoas que eu conheço
de diversas maneiras”, diz
Com o tempo, sua arte se virou
para si mesmo e para a realidade
à sua volta. As cores também
começaram a aparecer nas obras,
marcadas por olhos quase
sempre laranjas, que chegam
a saltar do papel
Na pandemia, pra fugir da
tela e até mesmo das galerias
fechadas, Kid passou a pintar
por toda a parte. Dos muros
das periferias até garrafas e
pedaços de papelão, hoje seu
trabalho pode ser visto pelas
beiradas do Rio de Janeiro