Aos 91 anos, Rubens Junqueira Villela divide o que viveu no deserto de gelo
Por: carol ito
O PRIMEIRO BRASILEIRO A PISAR NO POLO SUL
Fotos: Franco Villela/ Arquivo Pessoal
Rubens Junqueira Villela era criança quando ouviu sobre a Antártida pela primeira vez. No rádio, um locutor falava sobre expedições no deserto de gelo. E aquilo nunca mais saiu de sua cabeça
Ele se preparou por muitos anos – e até se tornou cientista – para realizar o sonho de explorar o território, aventura que, nessa época, era ainda mais perigosa do que hoje em dia
Em 1961, a bordo de um navio quebra-gelo, fez sua primeira expedição para a Antártida. Passou mais de dois meses em alto mar e 20 dias totalmente à deriva, perdido em meio a uma imensidão congelada
“Enfrentamos tempestades, medo da embarcação sofrer algum dano, foi terrível. Só não ficamos incomunicáveis porque tínhamos um rádio amador”, conta ele
“Apesar das dificuldades, eu achava tudo muito emocionante, viver aquilo era fazer parte da história”
No mesmo ano, Rubens partiu para uma segunda expedição. Dessa experiência saiu consagrado como o primeiro brasileiro a pisar no Polo Sul geográfico, um marco para a ciência brasileira
“Eu promovi o interesse pela pesquisa na Antártida entre os pesquisadores brasileiros que, na época, mal tinha ouvido falar sobre isso”, lembra ele, aos 91 anos
Foram mais dez expedições até o continente gelado, nas quais Rubens pesquisou processos de degelo e mudanças meteorológicas
“Acompanhar o degelo na Antártida ajudava a fazer as previsões anuais para o clima no Brasil. As correntes marítimas e a extensão do gelo influenciam na mudança das estações”, explica
Graduado em meteorologia pela Universidade Estadual da Flórida, nos Estados Unidos, Rubens fez estágio na NASA e foi professor da USP, onde se aposentou no ano 2000
Em 1991, Rubens usou sua vasta experiência na Antártida para ajudar o navegador brasileiro Amyr Klink, que realizava uma travessia pelo território
Na ocasião, a bordo do veleiro Rapa Nui, ele passou por uma das experiências mais assustadoras da carreira atravessando o estreito de Drake
A região fica entre o sul da América do Sul e a Antártida e é conhecida por ter uma das piores condições marítimas do mundo
“Depois de uma tempestade repentina, que gerou ondas de cerca de 12 metros, o barco capotou. Pensei que iria morrer”, relembra ele, que sobreviveu graças às habilidades dos quatro tripulantes e da qualidade da embarcação
“Concordo com o navegador [inglês] Ernest Shackleton que dizia que as expedições antárticas eram ‘uma maneira de viver momentos miseráveis e desconfortáveis ao lado de excelentes companheiros’”
Décadas depois, Franco Villela, filho de Rubens, também realizou expedições na Antártida. Ele trabalha como meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet)
“Para enfrentar as dificuldades do ambiente, busco focar nas questões logísticas, na verba gasta para chegar até lá e no legado das pesquisas feitas na região”, diz Franco
A paixão pela ciência e o espírito desbravador para enfrentar os desafios impostos pelo frio polar uniram pai e filho
“O CRIOSFERA 1, PROJETO EM QUE TRABALHO HÁ QUASE 10 ANOS, EMITE DADOS EM TEMPO REAL QUE SERVEM PARA PRODUZIR ESTATÍSTICAS SOBRE O CLIMA“
“Isso graças ao trabalho de pioneiros que iniciaram as pesquisas por lá, incluindo meu pai”