O diretor de Cidade de Deus diz que são as árvores que planta, e não seus filmes, que ficarão para a posteridade
Por: Denis Russo Burgierman FOTOS: CACÁ MEIRELLES / REVISTA GOL
O LEGADO DE MEIRELLES
As unhas de Fernando Meirelles, o cineasta brasileiro mais prestigiado no mundo, estão sempre sujas de terra. Isso se deve a um hábito peculiar do diretor: plantar árvores
“Nunca contei, mas já devo ter plantado algo em torno de 100 mil árvores. Tenho mania de guardar os caroços das frutas que como no bolso e depois jogar na terra“, diz
A empreitada como jardineiro tem tudo a ver com sua preocupação com o acúmulo de gases de carbono na atmosfera, que já está causando secas, nevascas, incêndios e tempestades no mundo todo
“Em média, 60% do peso de uma árvore é carbono, então plantar muitas árvores é como ligar muitos aspiradores de carbono para limpar a atmosfera”
A emergência climática será tema de seu próximo filme. Voltado para o público adolescente, a história traz personagens jovens, de diferentes lugares, que já vivem o impacto do aquecimento do planeta
“Como disse Greta Thunberg, nós, adultos, falhamos com a geração dela e honestamente acho que continuaremos falhando. Resta a eles tomarem as rédeas“
Meirelles sabe que, apesar de urgente, trata-se de um assunto espinhoso: “Falar sobre a crise do clima é chato porque nos obriga a olhar para um futuro insuportavelmente duro”
O cineasta espera que os mais jovens façam pressão para mudanças que os adultos achariam difíceis demais. “Precisamos renovar os quadros de liderança por gente sensível à questão”
“Plantar árvores não vai resolver a questão do clima. Dependemos de decisões que vêm de cima, por isso votar em gente certa é peça-chave. Jovens mobilizados tenderão a votar certo”
Meirelles está animado. Recentemente plantou um baobá, árvore monumental da África, e três samaúmas
“Constatei por experiência que gente que gosta de plantar árvores tende a ser mais otimista”
“Quem planta um jequitibá, mesmo sabendo que ele vai começar a ficar bonito daqui a quatrocentos anos, está fazendo uma aposta no futuro. Tem esperança”
Para o diretor de Cidade de Deus, esse será seu maior legado. “Meus filmes serão esquecidos, mas os jequitibás que planto vão estar por aí por séculos”