O que anúncios de aluguel
de apartamentos pequenos
e caros têm a dizer sobre
o problema da moradia em
cidades grandes – e quem
se beneficia com isso

Por: Henrique Santiago
ilustração: mariane ayrosa

O hype dos
apartamentos
minúsculos

Você já pode ter visto
algum anúncio de aluguel
de um quarto minúsculo por
mais de R$ 1 mil em sites
de imobiliárias na internet.
Além de provocar surpresa,
o problema tem raízes
muito profundas

A cidade de São Paulo
é uma vitrine brasileira
de microapartamentos caros
e precários. Quanto mais
centralizado é o bairro,
mais o preço sobe. Mas isso
não é uma exclusividade
do século 21

O professor da Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo
da USP, Renato Cymbalista,
afirma que o fenômeno remete
aos tempos de cortiços,
há mais de 100 anos. Com
algumas diferenças, é claro

“Esses espaços são
anunciados publicamente
para as pessoas verem
e conhecerem sua baixa
qualidade. O máximo
que se via antes eram
placas de ‘Aluga-se
quartos para rapazes’”

Ele explica que a procura
para viver em cubículos se
dá por um motivo em especial:
a proximidade do trabalho.
Morar no centro evita longos
deslocamentos diários
no transporte coletivo

Um bairro é supervalorizado
por causa da alta procura
de pessoas que querem morar
em determinada região. O
movimento começa aos poucos,
com a inauguração de bares,
restaurantes e ateliês

Em São Paulo, regiões como
Vila Madalena e Santa Cecília
passaram por esse processo –
o aluguel de um apartamento
de 20m² com 1 quarto chega
a custar mais de R$ 2 mil

Na pandemia, o cenário de
incerteza fez com que parte
da classe média perdesse
sua renda e trocasse um
apê descolado por um imóvel
em um bairro distante do
centro ou pela casa dos pais

No entanto, as construtoras
não deixaram de especular
e verticalizar ainda mais
as grandes cidades. Prédios
antigos dão lugares a novos
empreendimentos de 10, 20
ou 30m². E quem se beneficia?

“Uma parte significativa
desses apartamentos
são comprados por
investidores e colocados
para aluguel. Eles não
são produzidos para
quem mais precisa, e sim
para quem pode pagar”,
diz Renato Cymbalista

Ele aponta que a legislação
permite que construtoras
usufruam do espaço sem dar
nada em troca para a comunidade.
Como consequência, a cidade
perde em sustentabilidade
e qualidade de vida

É por isso que o poder
público tem de entrar na
briga para repensar a moradia.
A construção de aluguéis
sociais e o fim de garagens
em novos prédios são algumas
das muitas soluções possíveis,
mas esse é um vespeiro
com muitos interesses

Conteúdo que transforma