Trocamos uma ideia com a mulher que amou Ricardo, conhecido na região central de São Paulo como Fofão da Augusta: “Depois que destruí meu rosto, eu sofri muito”
Aos 16 anos, Vagner e se achava diferente. Se entendia como homossexual, mas desejava intimamente ser uma mulher, embora sequer soubesse que se tornar transexual era uma possibilidade
“Sempre me sentia à parte porque a minha família me reprimiu muito. E na verdade eu não era feio, eu era lindo, tinha um rosto lindo”, conta Vânia, que também é chamada de Vênus
Crédito: divulgação
Ainda adolescente, deixou a casa dos pais e foi apresentada à Ricardo, cabeleireiro que posteriormente seria conhecido na região central de São Paulo como “Fofão da Augusta”
“A primeira vez que eu vi o Ricardo ele era lindíssimo. Eu era muito jovem, eu não tinha dinheiro, nada. Ele me convidava pra jantar, me levava no cinema, me levava nas boates”, diz
“Trinta anos atrás a gente já saía abraçado, a gente se beijava, era um escândalo. A gente corria risco, mas o Ricardo era muito louco e eu também, eu seguia a loucura dele”
JUNTOS, VIVERAM NA DÉCADA DE 80 UMA MUDANÇA ESTÉTICA PERIGOSA. “O Ricardo começou a colocar silicone nele e depois me convenceu. Eu tinha muito silicone, saía pra fora. Era muita loucura”, diz
“Depois que eu destruí o meu rosto, eu sofri muito. Porque eu andava na rua e todo mundo me olhava. Chamava muita atenção, mesmo”
“As pessoas confundiam quem era Ricardo e quem era Vagner, de tão parecidos que a gente ficou. Me chamavam me Fofão também, era igual, porque meu rosto era uma coisa enorme”
“Eu tive dez operações só para tirar silicone. Fiquei paralisada, eram oito horas de operação para tirar o silicone. Hoje eu me sinto bonita porque eu fiquei mais madura também”
“Claro, agora quando eu envelhecer um pouco, vou dar algumas acertadinhas, mas eu tenho outros valores hoje. Procuro mais a saúde, o bem estar, a paz de espírito, mas quero continuar sendo bonita”
O apelido de “Fofão da Augusta” acompanhou Ricardo até sua morte, em 2017, em referência às bochechas pendentes do personagem de um programa infantil na década de 80
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Ele era uma figura conhecida da Rua Augusta, em São Paulo, onde costumava distribuir panfletos de peças de teatro
“Quando deixei ele, eu deixei um salão com tudo pra ele. Na minha cabeça, ele ia ficar bem porque ele era uma pessoa fabulosa. Eu nunca imaginei que ia dar tudo errado na vida dele”
“E eu percebi que ele sofreu muito de eu ter deixado ele. O Ricardo sofreu muito por falta de amor”
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Em 2019, a história do casal foi contada no livro “Ricardo e Vânia” pelo jornalista Chico Felitti, que já havia revelado o homem por trás do apelido em uma reportagem pouco antes de sua morte
DIREÇÃO: Emiliano Goyeneche
PRODUÇÃO: Stephanie Ricci
FOTOGRAFIA: Nathália Cariatti Vitor Serrano Gabriel Cabral