Neide Santos
é o corre!

Imagens: Thomás Arthuzzi/ GOL

No Capão Redondo, periferia
de São Paulo, ela encontrou
na corrida a força para
transformar a sua vida e
de milhares de crianças e
mulheres através do esporte

Marineide Santos Silva deixou
a Bahia aos seis anos com a
promessa de uma vida melhor,
mas o que encontrou em São
Paulo foram abusos, trabalho
doméstico e exploração

Aos 14 anos, ela viu seu destino
mudar. Uma das meninas do
revezamento da prova de atletismo
havia faltado na escola e o
professor de educação física
escolheu Neide para substituí-la

“Coloca a Neide porque ela
é fininha. Qualquer coisa,
o vento leva”, disse ele.
E levou. Ela não só ajudou
a equipe a conquistar uma
medalha como encontrou
na corrida sua
verdadeira vocação

O Capão Redondo, na zona sul
de São Paulo, foi o bairro que
a acolheu. Ali Neide viveu
suas maiores dores, mas também
foi na comunidade que encontrou
forças para se reerguer

Em 1979, perdeu seu primeiro
marido, morto por um policial.
Em 2000, Mark, seu filho
primogênito, foi assassinado
aos 19 anos em um crime que
nunca foi esclarecido

A depressão bateu forte,
mas, depois de as vizinhas
implorarem pela volta dos
treinos que ela ministrava
informalmente, Neide se
levantou e correu outra vez

Foto: arquivo pessoal/ divulgação

Para honrar a memória do
filho, resolveu unir o esporte
à aptidão já consolidada como
líder local, dessas que
conserta tudo, organiza festa
junina e ensina artesanato
para as crianças

E assim o projeto Vida Corrida
foi tomando forma, ganhando
novos contornos e atendendo mais
e mais pessoas que encontravam
em Neide um alento

“Não existia a cultura
do esporte, os homens só
queriam saber de futebol.
E, enquanto eles jogavam,
as mulheres ficavam
cuidando da casa”, conta

Até 2009, quase uma década
após o nascimento do projeto,
Neide carregava o Vida Corrida
nas costas, angariando dinheiro
com rifas, doações e do
trabalho como costureira

Foi ao receber de um prêmio
o primeiro aporte financeiro
que ela percebeu a necessidade
de dar mais visibilidade
para sua iniciativa

“Eu não era apenas a
maluquinha que corria, como
me chamavam. Estava fazendo
políticas públicas”, conta
Neide, que passou a ser
chamada para contar sua
história em empresas

Foto: arquivo pessoal/ divulgação

Aos poucos, ela foi alcançando
sonhos cada vez maiores. Conseguiu
apoio financeiro para seu projeto
e, em 2016, conduziu a tocha
olímpica e viu um de seus atletas
competindo nos Jogos Paralímpicos

Foto: arquivo pessoal/ divulgação

Graças à sua luta incansável,
a via Arroio do Engenho, no
Capão Redondo, ganhou pista de
atletismo, cesta de basquete,
quadra de futebol e amarelinha

Mais de 4 mil crianças da
comunidade já foram impactadas pelo
projeto. Muito além dos números, o
trabalho de Neide promove a mudança
da realidade por meio do esporte

Foto: arquivo pessoal/ divulgação

“Acredito que posso fazer
diferença na vida de alguém”,
diz ela, que foi escolhida
pelo público para ser
homenageada no prêmio Trip
Transformadores 20/21 

“Não posso mudar o mundo,
mas posso mudar a realidade
do entorno. Já pensou se todo
lugar tivesse uma Neide?”

Gente que acredita que só vai ficar bom de verdade quando estiver bom para todo mundo