O escritor e colunista da Trip aprendeu na prisão a ler, a estudar e os valores que levou até o fim de sua vida
Foto: Gabo Morales/ Trip
Luiz Mendes atravessou muitas batalhas em seus 67 anos, transformando cada uma delas em um momento de vitória ou de aprendizado
Sua vida errática, história repetida da desigualdade cruel em que vivemos, o levou a passar mais de três décadas na cadeia, onde entendeu que o crime ficaria no passado
Foto: Gabo Morales/ Trip
“Quando eu fui preso, eu tinha 19 anos. Eu conhecia o meu bairro e o Centro da cidade e mais nada. E estava preso pro resto da vida. Minha pena ultrapassava 100 anos, chegou a 132 anos”
“Eu aprendi a ter compaixão pelos outros sofrendo. Eu podia passar aqui e falar: 'Que lugar filho da puta, que lugar desgraçado'. Que eu vim aqui sofrer, e sofri pra caramba”
“Mas foi aqui que eu aprendi também. Foi aqui que eu aprendi a ler, foi aqui que eu aprendi a estudar, foi aqui que eu aprendi os valores que eu tenho. É incrível. O que eu aprendi de bom, eu aprendi aqui dentro”
Foi na cadeia que Mendes se alfabetizou, aprendeu a ler e escrever e se tornou o primeiro preso a cursar uma universidade no estado de São Paulo, em 1982
“Eu cheguei a ser professor dentro da cadeia durante 10 anos. Alfabetizei trocentos caras dentro da cadeia. Um monte, um monte de pessoas. Acabei na Casa de Detenção sendo o responsável pela escola, uma escola com 900 alunos e 25 professores”
Mesmo encarcerado, ele se tornou cronista, escreveu contos e publicou ainda lá sua primeira obra, “Memórias de um sobrevivente” (2001), pela Companhia das Letras
Nas páginas da Trip, por 19 anos Mendes dividiu com o mundo suas vivências e aprendizados, em grande parte trazidos de dentro dos muros
Foto: Ali Karakas/ Trip
Desde memórias de quando chegou, embrutecido, até episódios de ternura, como no momento em que foi voluntário no tratamento de doentes no meio da epidemia de AIDS na cadeia
Foto: João Wainer/ Trip
“Prisão é uma monstruosidade. Isso de recuperação social é conversa fiada. Te colocam em uma jaula e não oferecem nada em troca”
Foto: Ali Karakas/ Trip Foto: Ali Karakas/ Trip Foto: Ali Karakas/ Trip
Quando deixou a cadeia, em 2004, Mendes usou sua história para ajudar a sociedade, em aulas, palestras e em projetos que desenvolveu voltados para outros ex-presidiários
Foto: Gabo Morales/ Trip Por seu trabalho, o escritor recebeu em 2016 o prêmio Trip Transformadores, quando contou como sua trajetória o transformou em uma inspiração para tantas pessoas
Foto: Trëma/ Trip
“Eu aprendi que não havia nada no mundo mais satisfatório do que dar às pessoas aquilo que elas necessitavam. Era uma coisa muito satisfatória e que preenchia a alma”
“Eu sou uma pessoa que gosta de gente. Acho que é o que me define. Que me apaixonei por gente. Não consigo mais viver sozinho”
Mendes morreu aos 67 anos, em abril de 2020, e deixou suas palavras e suas ideias eternizadas em seus textos