Admirado por Caetano Veloso, o historiador e youtuber marxista conta como construiu seu pensamento crítico a partir de estudos, militância, raiva e música
Por: Douglas Vieira Imagens: arquivo pessoal/ divulgação
Jones Manoel
A história de Jones Manoel é como a de muitos. Aos 14 anos, ele já tinha começado a pular de trabalho em trabalho: vendia jornal no semáforo, foi segurança, zelador, entre outras funções. E estudava
“Levei a adolescência trabalhando e estudando, com muita dificuldade. Nessa época eu não tinha muita perspectiva de politização”, conta
Historiador marxista, professor, mestre em serviço social e educador, hoje ele é dono de um canal no YouTube com mais de 100 mil inscritos e possui uma voz que chega cada vez mais longe
Em uma entrevista, Caetano Veloso atribuiu a Jones o fato de ter deixado para trás alguns pensamentos de “liberalóides”, como definiu, e mudado sua visão sobre alguns governos socialistas
Imagens: Mídia Ninja/ reprodução
Apesar da admiração pelo artista baiano, não foi ele quem Jones cresceu ouvindo. O rap fez parte da formação não só musical, mas também política do historiador pernambucano
Imagens: Mídia Ninja/ reprodução
“O rap me deu o primeiro elemento de construção de uma perspectiva em que eu passei a deixar de ver como negativo ser negro. Eu deixei de achar meu nariz feito, meu cabelo feio”, lembra
“Entendi por que o sentimento de raiva e injustiça que eu sentia da sociedade não era errado, ao contrário, estava corretíssimo”, diz. “E que o crime não era um caminho pra minha expressão da revolta”
Foto: Guilherme Gandolfi/ divulgação
Ele já se considerava marxista quando entrou na Universidade Federal de Pernambuco, mas foi lá que começou a se aprofundar na política, na economia e na história do Brasil
Durante o mestrado, fez um blog, começou a escrever para vários portais de esquerda e viu seus textos ganharem repercussão. Para ampliar essa conversa, criou, em 2017, seu canal no YouTube
“Até 2019, eu dialogava basicamente com pessoas que eram de esquerda, mas em geral não eram marxistas”, conta ele, que começou a alcançar um público de outros espectros do pensamento político
“O que mudou é que eu estou muito mais preocupado em debater a Petrobras do que o conceito de classes sociais na obra de Marx. Fazer uma ligação entre a teoria marxista e os problemas mais imediatos”
Em 2020, o historiador lançou três livros, entre eles “Colonialismo e luta anticolonial: Desafios da revolução no século XXI”, em que organiza textos do filósofo italiano Domenico Losurdo
“Eu ouvi falarem que a pandemia ia derrubar a popularidade de Bolsonaro, que o povo ia ver a desgraça acontecendo e reagir”, diz. “Mas o Brasil é formado historicamente na base do genocídio”
“Você tem um país de origem colonial, escravagista, que conviveu por mais de 300 anos com a escravidão e com o genocídio da população indígena, com o extermínio. A República nasce disso”
“Isso é tão naturalizado na nossa cultura que, bem antes de o Bolsonaro ser presidente, o comandante do Massacre do Carandiru foi eleito deputado com o número de assassinados na legenda. É isso”