Ele, de fato, tem a senha.
Como um jovem vaqueiro ganhou
o Brasil e se transformou
em um fenômeno?
Por David Carneiro
João Gomes:
"O rap é a minha
maior escola"
Fotos: Duda Portela/ Arquivo Pessoal/ Divulgação Foi ouvindo rap, cantando
Belchior, lendo Machado
de Assis e frequentando
vaquejadas que João Gomes,
aos 20 anos, conseguiu
o (quase) impossível:
furar bolhas e aproximar
um Brasil dividido
Nascido em Serrita, pequena
cidade do sertão pernambucano
conhecida como a Capital
do Vaqueiro, ele se tornou
o queridinho do país e viu
suas músicas sendo cantadas
aos berros pela galera
do sertanejo, pelos
jovens hypes das capitais
e por uma infinidade de
crianças e famílias
“O João Gomes de Serrita
ainda é uma criança. Na
verdade, é Joãozinho, é João
Fernandes. Quando eu estava
em Serrita e ainda tinha o meu
avô, tinha muita inocência,
e queria muito descobrir
o que era esse mundo”, diz
João começou a cantar ainda
criança, no coral da igreja.
Sua voz grave e melódica sempre
foi motivo de espanto. Como
um menino franzino tem uma
voz tão potente? Ele gravava
versões de artistas que
gostava e postava no YouTube.
Foi assim que “viralizou”
pela primeira vez
A carreira começou pra
valer com apresentações
em vaquejadas e festas
do sertão pernambucano.
O piseiro, ritmo que hoje
domina as paradas do Brasil,
foi o seu caminho natural
“Eu sempre cantei mais para o
público da vaquejada, então
não teve estranhamento, porque
já era esse ambiente misturado.
Quando surge um novo artista,
esse público apoia, incentiva,
e o mundo inteiro acaba
conhecendo, como aconteceu
com Tarcísio do Acordeon,
com Zé Vaqueiro, comigo
e com vários outros artistas”
Desde 2021, ano do lançamento
do seu primeiro disco, “Eu
Tenho a Senha", ele faz mais
de 25 shows por mês, soma
milhões de seguidores nas
redes sociais, gravou um
DVD para 150 mil pessoas
no Marco Zero do Recife e
emplacou hit até na trilha
da novela Pantanal
Fã de literatura, de rap,
de samba e do sertão, João
Gomes encontrou nos livros
a vontade de conhecer o mundo
além da sua pequena cidade.
É normal vê-lo compartilhando
dicas de leitura em suas redes
sociais. Todo esse caldeirão
genuinamente brasileiro é o que
João apresenta em suas músicas
“O rap é uma escola, tem muita
poesia, muita referência boa pra
gente estudar. Acho que a minha
maior escola no rap foi Don L,
que é um cara de Fortaleza.
Ele canta sobre sair do Nordeste,
vir para o Sul. Acho que aquele
álbum 'Roteiro Pra Aïnouz'
foi a minha maior escola”