Enquanto autoridades em São
Paulo decretam uma guerra
violenta contra dependentes
químicos, psicólogos, ativistas
e ex-usuários argumentam que a
saída passa longe do confronto

Por: Nathalia Zaccaro
e Renan Fagundes

Existe saída
para a
Cracolândia?

foto: Tommaso Protti

Falar sobre alternativas
para a questão da Cracolândia
ganhou nova urgência depois
de mais uma operação no local
em maio de 2022. A discussão
sobre possíveis soluções
para atender os dependentes
químicos não é de agora, mas
há ainda muito a se debater

foto: Franco Amêndola / Rolê / Trip

“O caminho é estabelecer
um vínculo. O tratamento
tem que fazer sentido para
a pessoa. Quem defende
internação compulsória não
quer resolver o problema,
só quer se livrar dessas
pessoas”, diz Bruno Logan,
psicólogo e especialista
em redução de danos

foto: Franco Amêndola / Rolê / Trip

Em 2017, a Prefeitura de São
Paulo suspendeu o programa
De Braços Abertos, que desde
2014 promovia iniciativas
de resgate social através de
trabalho remunerado, alimentação
e moradia. A suspensão do
programa foi considerada um
retrocesso por especialistas

foto: Franco Amêndola / Rolê / Trip

Na época, a administração
paulistana queria que pessoas
em situação de “drogadição”
pudessem ser internadas
compulsoriamente sem a
necessidade de uma aprovação
judicial individual. Na prática,
o que a intervenção policial
causou foi a dispersão
de quem vivia ali

foto: Franco Amêndola / Rolê / Trip

“O que aconteceu foi uma
quebra muito violenta de
um vínculo que vínhamos
construindo. Os dependentes
estão com medo, e com
razão“, explica Laura Shdaior,
psicóloga e ex-funcionária do
extinto De Braços Abertos

foto: Franco Amêndola / Rolê / Trip

A dimensão social da Cracolândia
existe desde o seu surgimento,
na década de 1990, com pessoas
que buscavam fugir da violência
dos bairros periféricos se
unindo no mesmo espaço físico
para usar crack

foto: Franco Amêndola / Rolê / Trip

“O problema ali é a
vulnerabilidade. Não é
só a droga. É social. Se
você arranca alguém de seu
contexto e tranca em uma
clínica, é claro que ela
não vai se drogar enquanto
estiver lá. Mas e depois?”,
explica Bruno Logan

foto: Franco Amêndola / Rolê / Trip

Com o passar dos anos, essa
aglomeração com pessoas morando
em barracos ou concentradas nas
ruas ganhou o apelido de fluxo.
O nome foi dado pelos próprios
dependentes químicos

foto: Franco Amêndola / Rolê / Trip

“Em certa medida, o termo
estabelece alguma correlação
com os fluxos surgidos
espontaneamente em festas
nas periferias”, diz Taniele Rui,
antropóloga da Unicamp

foto: Franco Amêndola / Rolê / Trip

Para o psicólogo Maurício
Cotrim, especializado na
recuperação de dependentes
químicos e, ele mesmo, um ex-
usuário, compreender que o
problema é também social é um
dos passos mais importantes

foto: Franco Amêndola / Rolê / Trip

“Tratar essa questão de
forma militarizada é achar
que estamos enfrentando
um problema de segurança
pública e não perceber que
a questão ali é de saúde
pública”, explica

foto: Franco Amêndola / Rolê / Trip

Cotrim ressalta que a redução
de danos – estratégia de saúde
pública que busca controlar
possíveis consequências adversas
ao consumo de psicoativos – é
fundamental, especialmente no
primeiro contato, mas que não
deve ser a meta final

foto: Franco Amêndola / Rolê / Trip

“É ótimo que o sujeito
fume menos pedras por
semana, temos que investir
nisso, mas não podemos
abandonar o objetivo de
que a pessoa se livre daquela
situação, ou corremos o
risco de ficar enxugando
gelo”, conclui Maurício

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